não é poesia. não é prosa. não é literatura. não é filosofia. texto. palavra. traço. ponto a linha. entrelinha.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
linhas (escrito antes de haver facebook)
"Da
sala enfumaçada
Pra
onde foram meus amigos queridos"
"Blue
Riviera", Zé Rodrix
– Alô,
Telma? Feliz aniversário!
– Quem
está falando?
– É
Vera.
–
Vera?...
A
pergunta significava um vazio, um oco na memória. Era uma deflagração de
ninguém. Por um instante esse vazio me abalroou e eu me deixei cair nesse oco e
pensar o que diabos estava fazendo. Mas a vontade era continuar e ver aonde é
que esse oco poderia dar, porque afinal ele ainda não tinha chegado ao nada.
Era por enquanto só um fisgo de medo.
– 1976,
ginásio, 8ª série. Você sentava ao meu lado. Éramos números subseqüentes na
chamada. Costumávamos nos chamar de melhores amigas, uma à outra. – Não sei o
que me deu, fui acometida do verbo e da linha lógica do tempo. Ela silenciou.
Eu silenciei em reticências.
–
Nossa! Vera? Veruska! Verinha?! – aquilo me trazia um sim de alegria.
– Isso
mesmo – e meu emudecer de surpresa...
– Como
você lembrou?
– Ah,
eu sempre me lembro. – Considerei o até que ponto a verdade era caso nesse
momento. Dar ponto de importância imorredoura. Perpétuo admirar. Mas, que
mais?... Era o que era, o dia do aniversário dela, e de umas tantas outras
pessoas que passaram pela minha vida, eu não esquecera, tivesse isso o
significado que tivesse.
– É?
Puxa... – aquilo queria por conseguinte dizer que no caso dela o mesmo não
correspondia à verdade.
–
Enfim. Você hoje, pelo que me lembro, está fazendo 43 anos, né? – denunciei.
– É
verdade. Você, disso eu sei, é um ano mais nova do que eu...
– Aí é
que você se engana...
– Como?
– perguntou ela, abalada em sua única certeza quanto a mim naquele instante.
– Eu
agora tenho 14 anos, amiga.
Por um
momento houve um silêncio, meio dúvida, meio surpresa; depois, é claro, aquilo
se desfez em uma risada:
–
Claro, você continua jovem e bela.
– Não
era bela...
– Bem,
isso era uma questão de ponto de vista. Você sempre não se deu valor.
–
Verdade. Mas a verdade é que os meus 14 anos de agora são bem mais jovens que
os daquela época.
– É? –
ela sorriu. – E como é que você fez para se manter assim?
– É porque não se trata de manter, mas de
mudar, sempre, muito, intensamente.
– E
isso te trouxe de volta os 14 anos?
– Na
verdade, não. Porque nada voltou. Só avançou; foi adiante, transformando e
assumindo a forma de um outro vir a ser.
– Sei,
sei. – desconversou ela. – Mas, me conta, como é que você vai? O que é que você
tem feito?
– Ahhh,
ao longo desses 28 anos, você diz?
– É –
primeiro ela respondeu contente – bom... não...– depois ela percebeu – é...
estranho, né? – por fim ela se deu conta.
– Um
pouco, mas a proposta era essa, né? – afinal, eu tinha de ceder...
– O que
a fez ligar?
– Ah,
isso, de eu sempre lembrar, sempre lembrar. Peguei seu telefone na internet,
achei que você poderia se surpreender, queria ver qual ia ser a sua reação. Só
isso.
–
Assim, só pra brincar?
– É. E
viajar no tempo. No que eu fui, no que nós fomos e no que nunca mais seremos...
entrar em contato com o passado e ao mesmo tempo com a distância irrevogável de
quem éramos naqueles tempos... – definitivamente eu estava sincera.
–
Nossa, como você ficou trágica. Bom, você sempre foi trágica – recordou-se ela.
–
Sempre, é verdade. Mas essa constatação não necessariamente inclui a tragédia.
– É,
mas, e agora, o que fazemos? – pelo visto meu intervalo tinha conseguido
tocá-la.
– Não
sei. Na verdade o propósito era a surpresa do passado vindo. Como você se
sentiu?
– Ah,
não sei, né? Primeiro veio a sua imagem, a minha imagem, a gente junto; depois
foi aquilo dos 28 anos. Ainda estou no impacto.
– No
lapso.
– Como?
– No
lapso de tempo – ajudei.
– É,
deu uma coisa.
–
Estranho, parece um vazio, porque a gente procura. E o engraçado é ouvir-nos a
voz. Não somos mais, mas ainda temos provavelmente um laivo da voz.
– É. A
minha está ficando grossa, de tanto fumar. Você fuma?
–
Parei. Faz cinco anos. Uma perda...
–
Alguém muito próximo?
– Como
assim?
– A
perda, ora.
– Não,
a perda foi ter parado. Adorava fumar...
–
Ah...– ela respondeu, como um eco no longe.
Eu
queria saber se tinha mais, de onde ou para onde iria aquilo. Mas o eco foi se
desfazendo ao longo do túnel do telefone. Fomos nos desvanecendo. Não havia
mais. Eu não queria perguntar mais nada. Não queria saber de casamento,
formatura, profissão, a vida, enfim, essa que fica toda fora. Ela perguntou,
contudo:
– Você
está casada?
–
Quase. Ainda não se pode dizer que seja um casamento...
– Por
quê?
–
Coisas. Essas coisas que só tem sentido contar se...
– Se...
– Sei
lá, Telma. E você? Por que perguntou se eu estava casada?
– Ora,
pergunta. Pra saber. Para ter um pouco de parâmetro, para me basear.
– Hum.
Ajudou?
–
Digamos que você não ajudou – concedeu ela.
– Folgo
em sabê-lo.
– Você
está pior, bem pior...
– É
verdade, rejuvenescer tem um preço. Eu tenho um pouco de medo de lhe perguntar
sobre a sua vida. Porque acho que você me diria coisas que não me interessam.
–
Então, por que ligou, puxa vida? – reclamou ela, redundante.
– Para
saber como é que você era.
– Uai,
então, quer ou não quer saber?
– Na
verdade quero, mas não quero saber o quê da sua vida. Quero saber o como. E
isso você não deveria ou não deverá me contar, porque não tem sentido... ou....
– formulei a lógica e estaquei em silêncio no ou... O que eu queria com aquilo?
– Você
ainda está aí?
– De
que você, você está falando? – minha recuperação foi praticamente instantânea
ante o alento de vê-la me procurando assim no vácuo passado-presente pelo fio
do telefone.
– Dessa
que me ligou, ora – dessa vez quem foi instantânea foi ela.
– Então...
ficou curiosa?
– É,
fiquei com saudades, com curiosidade...
– Se
continuar, vai ver que ficou mesmo foi com medo... – tapa na cara.
–
Medo?...
Era
essa a minha intenção desde o início? Que afeto havia ali no eu querer tanto
falar com ela, chegar a vê-la? O que havia nisso? Só um jogo do que será que
fomos vindo desde o passado? Não; absolutamente. Ali estava eu procurando
amiga, procurando a mim. Procurando assunto ou acontecimento. O que em mim me
fez digitar esses números de telefone? O presente vácuo, um momento equívoco de
turbilhão silêncio no meio de uma tarde. Depois, a vontade-medo, que me quase
impediu o movimento. Depois, o golpear do coração ensangüentando todas as
minhas veias, inundando adrenalina pelos tecidos e pelas minhas válvulas todas
de sentir. Um sentir-me viva. Contemplar o medo de pé e braço com o passado
agora. O conhecido no não imaginado. Isso era uma era da procura do
descompasso. Ou era fugir do presente? Ou era abraçar e saudade?
– Vera?
Vera?
Ouvi e
não pude ainda fazer subir o ar e transformá-lo em voz.
– Vera?
– insistia Telma, numa voz sentida de quem havia acabado de perder uma amiga.
Eu
ainda fiquei assim, intercalada de dúvidas. Sentindo no corpo o impacto dos
golpes que o medo fez meu sangue aplicar. Aos poucos, fui sendo vencida por um
quase vir de inspirar e expirar. Uma quase trégua interna. Pude encontrar uma
fresta naquilo, uma fresta dada pela voz de Telma que do outro lado continuava
a chamar meu nome:
– Vera?
Vera? Para onde você foi?
De
repente aquela pergunta me fez retomar um caminho que eu não havia previsto. Um
caminho de pergunta no passado:
–
Quando? Depois que você mudou de escola?
– É...
na verdade não, estava me referindo a agora – respondeu ela, no presente. – Que
susto. Que silêncio estranho.
– Você
teve medo? – perguntei.
–
Quando? Agora? Não sei, não ouvi a sua respiração, mas sabia que você não tinha
desligado...
– Não,
não agora. Você disse que ficou com saudades, ficou curiosa. Você também sentiu
medo?
– De
quê? – estranhou ela.
– De um
reencontro. Do que poderia ser nós duas nos reencontrarmos depois de 28 anos.
Teve medo? – insisti.
– É...
bom... pra falar a verdade, é estranho. Mas estou falando isso só porque você
perguntou. Na hora eu ainda não estava sentindo, ainda, não. Por quê? Você teve?
– É,
fiquei completamente atravessada pelo medo, honestamente. Medo de você reagir
de maneira indiferente. Por exemplo: Alô? Telma? Feliz aniversário! E você:
Quem fala? E eu: Vera. E você: Vera?
– Bom,
mas foi exatamente isso o que aconteceu.
– É, mas
quando eu disse que Vera era você me chamou do passado, minha cara.
– É,
ué, o que você esperava? Que eu virasse para você e dissesse: Ah, essa Vera?
Não me aborreça! – brincou ela, sem perceber o quanto podia estar fazendo
aquilo, sem chegar a fazer...
– Ué,
podia. Não podia? Eu não sei no que você se transformou. Na verdade, eu nem
podia de verdade saber ainda o que você era. Eu não sabia o que era. Se bem que
também ainda não sei o que sou, essa que é a verdade.
– Por
essa razão você ainda está com 14 anos... – ela concluiu, rápida.
– Não,
aí é que você se engana. Por essa razão é que eu conquistei, eu finalmente
conquistei os 14 anos. Porque descobri que na verdade o que eu sou ou o que eu
era ou o que eu vou ser pouco importa. Pouco importa. – Falei tudo aquilo
pensando até que ponto ela estava disposta a ouvir tudo aquilo...
– Você
conseguiu, então. Esse parecia ser o seu projeto.
– Como
assim? – não entendi o que ela quis dizer. Será que ela...
– Você
parecia querer chegar a isso, com as coisas todas que dizia. Isso de não dar
muita importância para essas coisas todas a que as pessoas dão importância.
– Ah...
isso – digamos que ela também havia conseguido.
– Eu
gostaria muito de te ver – ela disse, dando ênfase à palavra muito... E
concluiu: – essa mesmo que você diz que não sabe o que era ou é ou virá a
ser...
(extraído do livro "uns tantos outros".)
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
de onde quer que se esteja
Aqui
era a pé que a gente ia. Nesse caminho. Por essa via. Aqui era com medo que se
seguia. O coração a medo. A solidão. A noite funda e o inferno de sempre ser
com agonia. Aqui. Era por aqui que se seguia. A mesma via. Eira sem beira.
Abismo tal que se expande até ocupar a outra fronteira. Aqui era sempre que se
detinha. Outra vivência de que por um sim ou por um não qualquer que seja se constrói
o lado do outro lado de um novo lado de onde não se pode ver ainda de onde quer
que se esteja.
(extraído do livro "um a um - os poros da paisagem pólen".)
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
mar
o mar revolto me
espanta
porque me apaga
o mar revolto me
atrai
porque me afoga e
aplaca
(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar".)
Assinar:
Postagens (Atom)