não é poesia. não é prosa. não é literatura. não é filosofia. texto. palavra. traço. ponto a linha. entrelinha.
sábado, 12 de outubro de 2013
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
nua descendo a escada ou a irmã de Igitur ou "a angústia da influência" ou o enigma traçado às traças
Às traças
Sigopéia desce a escada
quarto adentro; e turvas as parentes quadros curvam a madeira mol dura de
olhar. Mas pena dentro; dorme já? Pergunta seinda não? Pergunta seagora -- está
dormindo, ocaso, está dormindo madrugada adentro? -- já pode grafar à pena o
adentro?
Sigopéia deve continuar,
passo branco, pernas brancas, brandas rondas, adornadas torneadas curvas pernas
penas descem a escada e ir ladrilho a ladrilho cada degrau dela descendo a
escada. E Sigopéia -- nem te ligo -- contínua descida ergue-se égua
brancadentro adentro noite branca adentro. Sigopéia desce acorda torneando
pelascada na nuit adentro -- dentre
dentes -- escapole máscara -- máscada -- perdida enfim contínua descigopéia és
cada afora...
Em si -- tornar-se si --
como descendo elacoplasse -- implacável. Sigopéia descendo a é (s) cada desenho
de cenho de têmperas tropicais -- mas que belas letras! -- desce ela pela
escada unha range o dedo em ponta o
corrimão descendo o pé escada planta após o pé. Primeiro os dedos, depois o
resto, cada nome desce gesto agora tange o inverso.
Mas, que digo? -- de
Sigopéia -- ela desce, mesmo que longa a escada, mesmo que de seda de ser a
escada de Sigopéia (devo tornar-me alfabética para esclarecer do que trato?). E
Sigopéia... traz amplas gotas de tédio, fartas de êxtase, farta de é’stá... sê!
(já disse isso...?) e vai contente cumprir com lâminas o que são apenas lascas
degrau, de sendo sentido senso.
E Sigopéia jamais
abolirá -- conjura! -- o traseiro de redonda bunda, rotunda banda, então, ela
rola em normes dúvidas: se a descida de é qua-se ou de eco a ação. Égua vã, mas
devo tratar de Sigopéia (consigo péia?) consigo mesma.
(Esgarço as mangas,
pondero em páginas: cada palavra vai depender do olho agudo ou da perspicácia
de quem me lê -- será que pretensio?)
Ela se pergunta --
perfuta -- e refaz a descida a pé, ia não na estrada, antes na escada -- de sou
cada -- de écada (francês?) Degrau.
E Riopéia (Sigobalda)
borda nascente fosflorascende lâmpada’r’dentro de outro jardim.
Mas Sigopéia desce a
écada quarto adentro (“a” dentro, onde não há que dizer “a” de dentro num vão).
Desce a escada desce, Sigo -- e vê se verás, veraquiagora sem “a” ou com “a”,
severa já? Ver se verá severá demais -- de menos -- e nem se preocupa severão.
Se(no)vão teler. Se... afinal, Sigopéia, cê vai descer ou não?
Te veio? Mas cedo, não?
Veio nas pernas desceu pelas pernas as pernascadas que descem, mas tão-só até o
telhado da solidão! Seu irmão, Igitur, imagine, também desce por entre as
quantas salas, vela na mão, mas para ele nunca veio, não... (se eu o pego...)
Ah, não vai mais ser solidão! -- Eh, Sigopéia, preocupa com isso, não!
(extraído do livro Babel, é claro - publicado em 2002.)
terça-feira, 8 de outubro de 2013
sábado, 5 de outubro de 2013
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
escrevir
Eu não poderia tentar de novo. Como se tudo estivesse em
preto e branco. Como se a almofada lisa e branca não estivesse suja. Como se o
abajur tivesse lâmpada. Eu não poderia deixar nada escapar. Nem o milagre de
ler no escuro nem a ousadia de permanecer ali. Naquela casa vazia. Com medo de
ratos. Cheia de baratas. Com pó e migalhas por todo lado. E um relógio de pulso
jogado no meio do assoalho. E a luz da cozinha piscando; lâmpada piscando.
Noite e eu ali. A coragem de estar ali lendo no escuro. E
tudo era no escuro de facada cortada. Tudo era uma fatia iluminada. Eu estava
ali. Ainda nem me dava conta direito de como. Com janelas ao fundo. E a
almofada branca de suja a um canto. Eu que tivera a coragem de permanecer ali:
lendo e lendo no escuro. Todos foram embora. Minha vida fora embora. Escorrida
toda para fora da porta.
Agora ali. Naquela sala vazia com uma almofada suja de
branca e o relógio de pulso no piso. Lendo. Tendo a coragem de ler outro tanto.
E no escuro. Sem abajur pois a sala estava escura pisca-piscada pela lâmpada da
cozinha. Tudo era migalha e pó. E talvez uma ou outra barata passasse por mim.
Mas isso eu não via.
Minha vida toda escorrida para fora da porta. Não sobrara
nada. Nem a almofada branca nem o abajur sem lâmpada. O relógio de pulso
talvez. Mas eu o tinha abandonado sobre o piso. E lendo. E lendo. E o escuro
que estava agora que mais nada e ninguém havia. Estava ali no escuro com a
coragem de ler um livro. Página aberta. Toda a história que se contava. E eu
ali. No meio, sentada no piso. Tudo mais nada de mim ao alcance das mãos. A não
ser o relógio de pulso; mas este já estava no piso de um modo que já não fazia
mais diferença o que era, para que servia o que marcava.
Ali página aberta de par em par. Todas as letras me
abraçavam. Eram as outras camadas camadas finas que me encontraram. No escuro
do dia. No sótão. No veio da vida. Sem outro interesse que não estar ali lidas
por mim escritas por mim escritas camada a camada. Toda a minha vida escorrida
para fora da porta. Eu já não era mais nada. De mim só a fagulha única só nem
mesmo o pó e a migalha. E o relógio. Que àquela altura de tudo já não contava.
Eu estava ali. Almofada e abajur e luz ao fusco da
cozinha. Toda letra de páginas e páginas escritas percorrida toda camada.
Selvagem é não ser ninguém. É rasgar as folhas. Parar de
ouvir. Parar de ver. Parar ali. Selvagem é não ser ninguém com os pés no limbo
com todas as folhas. Nem mais um escrito. Nem um pincel. Nada pra ser dito.
Nada pra ser visto. Nada pra passar.
Selvagem é pensar pensar. Estar no fio da noite. Sem
poder dormir. Tudo em tudo tendo o em que pensar. Selvagem é sentir o mundo.
Todo esse mundo e dele não ser mais que seu tumulto. Verbo do sujeito oculto.
Vasto como um vulto. Algo que não foca. Ponto que não firma. Borrão do
inconcluso do ordinário laço que não se ata. Linha que não se liga.
Selvagem é ver difuso. Raspa de toda fibra que passa por
entre as tripas. Selvagem é querer dizer o que sempre haverá de ser o
indizível.
Eu não poderia tentar de novo. Como se tudo estivesse em
preto e branco. Como se a almofada não estivesse ali lisa ou branca ou não
estivesse desde sempre suja. Como se no abajur houvesse lâmpada. Como se das
migalhas e do pó da sala eu tivesse aviso sem ler o que de par em par se abria
no escuro escuro de toda página. Eu não poderia estar ali de novo selvagem no
chão da sala tripa que vibra o pó das coisas e não se cala.
(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar".)
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Assinar:
Postagens (Atom)