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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

partícula assombra



          Tudo o que você sente não é nada e não encontra lugar em ninguém. Nem em quem você ama. Nem em um descuido de alguém que como que sem saber como acaba achando que te ama. Tudo. Uma nuvem. Uma onda. Fótons ou espécie de partículas sombra que atravessam todas as vigas do que você julga ser você. Tudo é um sentimento desacordo de uma figa que não encontra coisa em que possa recair. Tudo tudo tudo enfim é só você e a fantasia que ao final de tudo te abriga de ver e de sentir o que por fim deve estar entre você e todas as outras coisas que você não consegue sequer sentir porque nem em sombra você pode suspeitar que sejam você e estejam aqui.

sábado, 15 de novembro de 2014

parecia



Parecia pedra parada. Parecia. Parecia paralelepípeda pista. Parecia. Parecia parede caiada. Parecia. Mas não era nada. Céu de pelo e asa pintada. Nem uma pia. Parecia vírgula deslocada. Parecia. Parecia grão de trigo. Parecia. Parecia um pedaço de pano uma canoa um cano parecia pau e terra pisada. Parecia ferrugem de trilho. Parecia. Parecia porta de erguer. Parecia. Parecia relógio e corrente. Parecia. Parecia madeira maçaneta e batente. Parecia. Mas não era nada. Parecia velcro no piso e solado de meias passadas. Parecia. Parecia piano e pinho. Parecia. Parecia pandeiro e surdina. Sustenido. Parecia banqueta parecia arco parecia um palco subindo. Parecia. Mas não era nada. Parecia máquina de colheita. Parecia trituradeira. Parecia. Parecia estrada de asfalto e as duas linhas uma contínua e a outra tracejada. Parecia. Mas não era nada. Parecia a tela no escuro. Parecia. Parecia algodão e almofada. Parecia. Parecia cortina entreaberta. Parecia. Parecia. Mas não era nada. Só arrumada no canto de uma página era uma coleta de palavras anotadas.

a colcha do pôr do dia


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

o fim



Onde. Ponto. Sem fim. Todas as palavras levam a lugar nenhum. Sejam quais forem sempre os mesmos. Superfície rasa. Chapada. Nenhuma fresta. Aresta. Onda opaca. Verde liso e sem nenhuma chance de apreender outra circunstância. De volta ao começo. Desmantelamento. Nenhum passo a mais. Nem um passo a mais. Está tudo exposto. Sempre o mesmo lugar no jogo. Sempre o mesmo fim. Nada pode mudar. Será assassinato não suicídio matar isso que insiste em ver desse ponto de vista. Não prosseguir. Não prosseguir. Parar. Parar. Ter a coragem suprema de parar e ficar para desassistir o que é que afinal vai deixar de vir.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

o que se passa como possa



Nem sempre é o melhor a fazer. O fazer. Quase braço onde um caldo se começa a entornar. Nem sempre há o que fazer. Só ficar sentado sentindo a dor insuportável o como que bafo do abismo. Não como o calmo que avança. Mas como o mar que se levanta. Mesmo que areia mesmo que fumaça. Mesmo que nada do que se possa pensar faça efeito. Mesmo que nada do que se possa abrir mão faça efeito.
Nem sempre há o que fazer no que é passível sentir ou ver. Nem sempre é possível ver ou sentir o que está ali ou mais tarde num outro horizonte. Mesmo que faça sentido nem sempre faz sentido permanecer agindo daquele modo. Nem sempre encontrar um jeito no fora do jeito no lugar quieto no que não se pode calcular de errante.
Fazer as pazes com um sentido andar de modo amigo. Recalcular a rota. Ou voltar as costas para o que é possível. Partir do antigo. Explodir todo o futuro previsto. Tudo estragado fora do frasco tudo deitado ao chão.
Nem sempre há o que fazer nem deixar de fazer. A maior parte do tempo o que segue da gente é um conjunto de membros montados em carne em ossos um conjunto que vai sendo a gente enquanto a gente arranja coragem para seguir adiante.
Às vezes não é uma questão de tempo nem uma estada distante. Às vezes é encontrar o próprio corpo num requebrar desconcertante. Às vezes não é uma questão de encontro ou de construção. Às vezes é só uma questão de tom.