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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

morto



Falo pela boca de um homem morto. Pouso suave de palavras que não querem dizer mais nada. Falo pela boca de um homem morto. Sopro que não se dá mais pelo oco da boca nem pelo que a língua dentro agita. Falo como um passado escrito pela boca de um homem morto. Tenho a medir pelo que exprimo nesse quase grito que ninguém de modo algum de qualquer modo ouve. Falo como o passado como o inscrito como o que ficou calado no falado dentro da língua imóvel do homem morto. Falo como se fosse o nenhum como se fosse arrancado como se estivesse mesmo o tempo todo desse outro lado. Falo pela boca do homem morto. E não há por que querer fugir disso. Além é claro do fato de que esse outro mundo que habito ainda não foi inventado. Mesmo que desse mundo pela boca do outro eu falo...

(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar".)

domingo, 19 de janeiro de 2014

algo de nenhum



Eu fazia luz num canto mas estava escondido. Eu fazia ali a luz por mim clara energia mas era invisível. Eu fazia ali no gotejar da onda partícula que não existia. Mas não existia. Tudo passava por mim. Eu era éter. Tudo passava por mim. Eu era pura matéria encontrada de luz caldo de um algo que não se traduz que não se esgota que nunca deixa de estar ali ali onde nenhum olho jamais se deita. Esquina vazia. Quebra do átimo. Eu fazia ali a luz de um canto comensurável mas não existia. Vaga fantasma força do eco. Camada lavada levada pela pura pela pura pura transparente maneira de passar pela existência sem nunca chegar a ser nada. Algo porém havia ali. Mesmo porque dele se diz se disse que era nenhum. E já que nenhum ali havia algo de nenhum ali se podia dizer que existia.

extraído do livro 'um a um - os poros da paisagem pólen'.