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quarta-feira, 25 de junho de 2014

texto espesso



Texto espesso. Não denso. Espesso caldo do avesso da antematéria. Não da matéria, a antematéria diante defronte distante em frente de frente de antes do antes quando ainda não há como chamar a quela.
Texto espesso expresso, não tenso: o que se exprime do estado do farfalo do nenhum começo. Rés do invento traçado à tinta do intenso.

(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar")

uma rua em que nunca estive com casas que nunca vi


segunda-feira, 23 de junho de 2014

fazer


o que é fazer com a palavra? 
repeti-la até deixá-la exausta 
até não ter mais nada 
além do eco na carne 
cavado camada a camada
(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar".) 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

um inverso II



Eu poderia descrever o descompasso. Que é o coração que parece que pulsa na boca do meio da barriga. Eu posso até destacar dessa sensação um gesto de acometimento um suor frio pela testa a escorrer pela fronte e pelas têmporas. Posso dizer para fora desse gesto o que é o resto que se ensembla uma cara uma sombra uma quase careta. Posso ainda apontar para o viés de cabeça o onde pousar despalmado dos braços e um leve rasgar em sorriso criança nos lábios. Um redarguir de outro mundo um estar de todo modo estranho. Mas depois disso uma chuva de afagos de superfícies tépidas como a temperatura do corpo. Um como que descobrir no desconforto no desconcerto no descontente no aparentemente desconexo aquilo que se experimenta como um certeiro momento sem espaço sem tempo. Um como direi como dizer um sem instante que se insurge no entrechoque da carne e do sangue com algo que não se define. Um pulso que vibra sem veias um estalo sem nada que se oponha ou a que se aponha. Um instante sem instante a mergulhar irrevogavelmente na substância dentro da qual desde sempre estivemos imersos.

(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar".)


a sombra devora


terça-feira, 10 de junho de 2014

um inverso I



Você não vai entender o que eu estou dizendo. Escrevendo uma forma desnuda que não se firma e não se afirma que está inteiramente inserta no que não se pode ver ou ler ou sequer ainda sentir.
Você não vai com certeza sentir o que eu descrevo o mundo em cima o mundo em volta o mundo envolto no que não se percebe com nenhum dos canais cabíveis para isso.
Você não vai com certeza aceitar essa forma de vida que não se mede com a mão que não se enxerga como sempre que não sequer se aproxima pois desde sempre esteve inscrita mais aquém daquilo que se concebe como sendo a nossa vida.
Você não vai descobrir nunca do que estou falando para onde aponto com esse modo engonço de organizar as palavras.
Você não vê não vai não mesmo quer se dar ao trabalho de entrar em contato com um mundo que não se abisma porque de maneira nenhuma dele podemos dizer que estamos apartados ou mesmo que dele somos destacados.
Você sem sombra de dúvida nem desconfia do que é afinal que eu estou falando cada vez que aponto e arranho a ponta do lápis nesta página lisa.

(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar".)

conversão das linhas ocupadas


sábado, 7 de junho de 2014

urdir



Impasse do comum quase um pero não tanto. Curvas que silvam tubos. Que abismam úvulas. Que vibram rentes. Mesclam bordas. Cerzem.  A unha. Alicate. Fios e dobras. Cortam feixes com os dentes. Prego em parede. Raspas em achas. Células em mol. De moléculas.
Cestas. Tensas. Em rede.

(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar".)