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terça-feira, 30 de setembro de 2014

as primeiras palavras



Em nenhum momento tive um porto seguro. Em nenhum momento ninguém teve isso que eu sei.
Mas a gente mascara a vida e se diz da vida que ela é o amparo que nunca tive seguro de ninguém.
Mas seguro como se a Terra boia indefinidamente num mar de sei lá que força ou matéria num mar de sei lá que malha? E se despencar de lá pro infinito? E se vier um algures planeta pedregulho de encontro à gente?
Em nenhum momento tive um porto seguro. Em nenhum momento ninguém teve isso que eu sei.

(extraído do livro "um a um - os poros da paisagem pólen".)

cresta da crosta - recorte


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

eu



Eu. Esta que diz eu. Ir do eu ao longe algures. Espargida pela paisagem. Nada mais do que pontos indiscerníveis no horizonte. Eu. Esta que diz eu. Que diz eu ao longe. Donde horizonte que se espraia donde horizonte que se avista. Donde horizonte horizonte. Algo longe de mi algo longe daqui. Esta que se diz aqui diz só de ser nada mais que a que não abriga mais nem o horizonte. Porque diz tão longe tão discrepantemente longe que diz de onde mais nem o horizonte. Nem linha nem de um ali nem de um lugar nem de um que diga eu esta ou o que quer que seja isto que daqui se erige para dizer que nem abriga nem se esconde para dizer pela última vez dizer que se diz eu não diz mais daqui nem de nenhum outro nem diz de um onde.

(extraído do livro "um a um - os poros da paisagem pólen".)

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

trata-se disso.



Trata-se disso. De se atirar de uma ponte. De se atirar de uma ponte e de morrer. Trata-se sempre disso. De morrer. A cada dia morrer. A cada suspiro morrer. A cada giro a cada respiro a cada momento minuto segundo morrer. Morrer toda morte que tem o dia. Que têm as folhas. Que têm as gotículas de água de vapor do vapor que evapora. Trata-se do ar que se respira. De cada átomo de cada partícula de cada luz que move o canto o pranto e uma nova teogonia. Trata-se disso. Estar morto para a vida. Estar morto nesta vida. Morrer morrer morrer a morte de quem ainda acredita. Trata-se disso. De morrer a cada centelha. De morrer a morte das abelhas. De morrer a morte da alegria. De morrer em todo caso. De morrer todos os dias. Trata-se inapelavelmente dessa alegria. Alegria alegria alegria pela morte de cada partícula que morre a cada dia.

Morre é modo de ver. Trata-se ao fim e ao cabo de indizivelmente aprender da matéria algo além dessa vida presa parada estocada no cúmulo de se acreditar uma partícula.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

larvar



Cavar nas estrias da terra. Membranas. Escoar todo o líquido o caldo manto todo o volume aquoso por sobre as canaletas. Cavar côncavos. Convocar conchas fazer abóbadas laranja terra.
No barro molhado lama caldo leito arrastar arrastar arrastar o que ainda ninguém tem como prever.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

todo inteiro



Todo inteiro é uma parte que arde. 
E depois disso vem o quê? 
Vem o vazio que invade e inventa a coragem de ver.