não é poesia. não é prosa. não é literatura. não é filosofia. texto. palavra. traço. ponto a linha. entrelinha.
sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
sábado, 17 de janeiro de 2015
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
sábado, 10 de janeiro de 2015
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
parado ali
Parado ali na chuva tudo era lado e eu não via. Parado ali
parado sem ter o que revelar do meu dia da minha noite. Sem ter mais nem um
passo a dar em direção àquela agonia. Parado ali parado a chuva lhe abria por
todo o lado frestas de poros por todo o lado a chuva me abria me dissolvia me
acumulava água fria empapava meus olhos meu rosto me apalpava e tirava de toda
aquela agonia. A chuva ponta a ponta por todas as fendas que há no corpo
entrava e abria e me dissolvia e me devolvia sem pele sem pelo sem sangue sem
zelo por nada mais que estar em pé ali embaixo de toda aquela água que só caía
que só caía. Que só caía.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
domingo, 4 de janeiro de 2015
sábado, 3 de janeiro de 2015
sobre o fio por um fio
arregaçado e estendido o tempo cumprido filete de infinito
esparso sobre o fio de algodão.
esgarçado sobre o abismo o lado tênue e premido sobre o que
seja o visto sobre a promessa de sombra sobre a taça e o filete o filete por um
fio escorrido sobre o tensor de soltar-se o deslaço o abismo fio de algodão.
quinta-feira, 1 de janeiro de 2015
toda a espécie - dizê-lo
Costurar pelo a pelo é um modo de zelo. É um modo de
dizê-lo. Do outro lado há o mundo inteiro. Eu da minha oficina consigo
atravessar o biombo e chegar na terra em que os pastos as cercas os riachos
podem se pegar com os dedos. Sentar mais um dia ali na bancada e ver os
pesadelos. Olhar de largo a janela de todas as moradas e dos medos. Soprar as
feridas supuradas. Costurar costurar costurar para conter com um pouco de calor
o que seja lá o que for.
A vida para eles é da estridência metálica dos instrumentos.
A voz esganiçada das aves quando atacadas no berço. O vento noturno lhes
asperge uma espécie de ácido que lhes entra pela carne e lhes alcança o avesso.
Seus sucos são ávidos suas mãos tateiam no escuro. Eles despencam a cada vez
que buscam. Nas horas em que o sol lhes banha a face parecem colhidos por toda a
alegria. Dos relógios cuidam como a poder carregar nas horas seu precioso desespero.
Que lhes escapa entretanto pelos dedos.
Eu zelo por eles. Já tentei declinar mas não me foi dada a
alforria. E meu modo de por eles olhar não é outro que só lhes sentir na carne
toda a agoria. As horas frias. As horas mortas. As horas pregadas num canto. As
horas perdidas. As ansiadas. As que não passam nunca as que chegam depressa
demais.
Minha oficina está repleta de toda sorte das suas
quinquilharias. Cada produto do seu destempero trago comigo aqui dentro.
Escondo de seus atropelos. Mas no geral não me é dado por eles poder fazer
coisa muita.
Não intercedo só lhes assisto o pior pedaço da matéria
aquele todo que sentem sempre que se julgam desligados de tudo e dos outros.
Destacados um a um. E a cada medo a cada ameaça a cada degredo de ódio que
nutrem meu corpo os acolhe como o inteiro que lhes abarca antes que saibam por
si só fazê-lo.
Meu ofício é o de menos. Por eles não posso pesar. Por eles
não intervenho. Só em meu corpo acoplar seus sentidos suas veias seus em cheio.
Traço com pincéis com ferramentas com lastros os mais
variados caminhos. Minha tarefa é a de habitar cada película de seus vínculos e de
trair-lhes os nervos. Alguns captam minha matéria a contrapelo. Outros dela
tentam fugir mas não há como escapar quando se traz em si a membrana sensível
aos meus apelos. Cavo-lhes as ondas complexas. Atravesso-lhes os extremos.
A maior parte deles porém nem me suspeita os desvelos.
Ocupados obclusos enganam-se pelo aparente do dia pelo evidente das horas e
erram ocultados de si da vida e de todo o vasto abstruso de seus próprios
meios.
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