não é poesia. não é prosa. não é literatura. não é filosofia. texto. palavra. traço. ponto a linha. entrelinha.
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
terça-feira, 29 de setembro de 2015
sábado, 26 de setembro de 2015
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
do tremor da paisagem
Da
janela do vagão via a paisagem que jamais pensara existir. Tudo aqui é tão
diferente do que já vivi que o que desconcerta é o medo de isso não mais viver.
Pedaços de paisagem. Árvores enormes. Animais que passam. Lagoas poças. O andar
lento de um bicho peludo. Os olhos pretos de uma vaca que me encara. Uma
criança correndo nua um homem correndo nu uma mulher correndo nua e tudo tudo
tudo passa como que por um pedaço de pano. Céu rasgado de azul. Estrada
cascalho trilhos. Casas caiadas ou com o esqueleto a frio. Tudo é um nu das
pessoas por esse planeta que vivem. Como estão chamas. Como estão carne como
estão vivas neste pedaço pequeno que vejo daqui da viagem.
Só
passo. Não fico. Tudo é um espaço que não para vai mudando o visto. Toda viagem
é um confisco do que a gente nunca pensou existir e que nem agora pode imaginar
direito o que é que seja aquilo. Tudo do trem fica tão vago tão em silêncio tão
candente morno que nem parece inverno só porque pisca o sol a luz sobre a Terra
inteira sobre esse chão.
Pinta o
sol essa luz que esquenta a vista ainda que o corpo e a alma não esquente não.
(extraído do 'livro' "um a um - os poros da paisagem pólen")
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
terça-feira, 15 de setembro de 2015
domingo, 13 de setembro de 2015
sábado, 12 de setembro de 2015
válvula vazia II ou a pelo
Tudo é uma parede de músculos que respiram a despeito do que
se queira. Alçapão sem lanterna. Chegar ao topo descobrir ao fundo o ápice do
fosso. Céu gelado tanque de água escura. Gotas que caem da laje. Nenhum bote
nenhum remo nenhum corrimão. Nem claraboia nem todo zelo podem fazer parar o
que essas paredes insistem em contrair. Algo como uma força voraz que arrebata
qualquer fluxo. Válvula sem fim alimentada por sei lá que recorrente apelo.
Levantou da cama para mais um dia. Olhar sempre no espelho.
Ver o vago da noite inteiramente perdida no mesmo pesadelo. Naquele dia nem a
barba faria. Nada de passar pente no pelo. Nem tomar banho. Nem trocar a roupa
com que já estava há dias. Nem sequer preparar o café. Nem o jornal. Nem a luz
do dia. Nem um passo para fora. Naquele dia estava decidido ele só faria o que
lhe dizia tudo isso que lhe viajava a contrapelo.
Sentou-se na sala. A cabeça fria. As mãos frias e secas
descansavam sobre os braços da poltrona. O jornal do outro dia jogado ao pé. A
xícara com café pela metade largada ali. Nem o tapete nada lhe dizia. Nem ele
era algo que àquilo tudo assistia.
Sentou-se sem tomar coragem. Nada premeditado. Só se sentar
na poltrona como sempre fazia. Nenhum lápis na mão. Também nenhuma caneta. Nem
a nesga de sol pela janela. Nem os barulhos do elevador. Nem o rumor constante
da rua. Nada lhe arrancava de dentro daqueles cômodos que dentro dele só havia.
O mundo a lhe acabar ao redor. E o seu único destino lhe comprimia. Ser de
papel. Sem ter mais que duas faces. Bidimensional tudo o que pudesse sentir era
agora para ele a única parte do jogo que lhe cabia. Ficar sentado ali. A
esperar sem esperar. Sem desejar. Ou imaginar. Sem nada diante de si. Só o que
lhe vinha por trás. Só o que lhe vinha por dentro. Só o que ele tinha entre o
ar e o que lhe viajava nas veias. Pelos e a pele.
Como chegar até aquilo que lhe fazia biombo que lhe fazia
fronteira. Fibra membrana que vibra ritmo que sempre se esgueira.
(extraído do 'livro' "afeto confesso")
terça-feira, 8 de setembro de 2015
sábado, 5 de setembro de 2015
Paris--Roma
Quando Paris chegou a Roma todas as
suas roupas estavam molhadas. Até os tênis. Até os ossos. Ele se lembrou como
de encontro que não trouxera nada além de livros em sua mala. Ficou ali todo
encharcado com u’a mão segurando o corrimão e a outra segurando a alça de sua
arca. Lembrou-se de que nem livros ele tinha trazido ali. Lembrou-se aliás de
que nada do que havia nela ele se lembrara de ali ter colocado.
Quando Paris chegou a Roma debaixo de
um enorme pé d’água. Lembrou-se de que só o que tinha para vestir era a roupa
do corpo que ora estava toda encharcada. E ficou ali naquele frio. Naquela
noite. Em pé parado com u’a mão sobre o corrimão e a outra a apoiar-se na alça
metálica de sua barca. E ficou ali todo molhado. Apanhando o ar frio o vento
gelado a chuva fina que lhe cobria todo desde o espírito até o que lhe restava
do penteado.
Quando Paris chegou a Roma descobriu
que aquilo era um arremedo de piada. Estava em pé com a roupa pesada colada à
pele do corpo por dentro dela desprotegido o corpo descarnado e desnudado. Dias
de estrada a pé. Dias de vagão de carga. Estava ali. E ainda lhe luziam nos
olhos as lanternas de todas as traseiras de carros da estrada. As lanternas de
todas aquelas latas conduzidas por bestas. Bestas solícitas bestas solenes
bestas ocupadas. Bestas caseiras que trafegam por todas aquelas vias
asfaltadas.
Quando Paris chegou a Roma descobriu
finalmente que nenhum sentido fazia estar vivo e em pé com uma pata apoiada no
corrimão com a outra por sobre a vaga. Com o corpo encharcado o cabelo empapado
e a alma a alma a alma. A alma a lhe garantir que não havia ali ninguém nem
nada que lhe pudesse tornar menos vazia aquela chegada.
(extraído do 'livro' "onde houver vida a vida haverá de vingar".)
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
d dia
Como começar da avenida. Pé. Água parada. Quebra guia perto
do bueiro. E havia uma chave ali prestes a cair da minha mão. Como começar do
bueiro. Com a chave na mão. Pé parado. Água não. Como começar uma palavra.
Havia dias mas naquele que foi fatal era preciso montar o que ainda havia. O
começo do que a vida inteira nele. Um pra trás um pra frente mas aquele foi
cavado num instante perene. Que está aqui que de mim nunca mais se desprendeu.
E o que foi esse dia. Recuperá-lo chave na mão. Mas com que porta que ele se
abria com que casa por trás ou nenhuma. Somente a chave ao vento no ar que
passava por ali. Um dia que foi um pra sempre o presente inteiro do passado
inacabado que estava pra vir. Aquele dia em que nunca mais fui outra.
Agora que se diga o que é possível o que se fez naquela
hora. Chave na mão. Pé no bueiro. Água movida escorrendo ladeira abaixo acima.
E nenhum presságio nenhum botão nada que se faça cala naquilo o que veio por
vir ladeira aqui. Rio que corre montanha que desaba escavação. Cismo que se
armou depois do dia em que nunca mais fui eu em que nunca mais pude ser outra.
(extraído do 'livro' "afeto confesso".)
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
mais do que uma lembrança uma vaga
Por que se atirar de uma pedra de uma ponte acabar com essa
vida? O que quer morrer o que quer matar de que fugir? O que não quer
encontrar? Onde estava no dia? Onde estava vermelho e uma capota de carro. Mas
o que era vermelho o que era listado? Quem era naquele dia que estava ali. Quem
estava encostado no carro? Uma camisa de abrir pés de tênis pernas cruzadas
sobre a calçada. A casa diante o jardim sem cuidado a chaminé da lareira do
lado de fora. A parede de vidro luminária acesa no alpendre e um copo de
cachaça da mais ordinária. Quem era que estava comigo quem era eu onde estava?
(extraído do 'livro': "afeto confesso".)
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