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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

nó no meio


flecha



Furar as madeiras. Delas só a ripas. Arrancar a farpa para o dedo. Extrair da lua o halo livre. Ver o sustentáculo do céu inteiro. Anotar todas as frases nas paredes. Fazer-se oco para o veneno. Ser o contrário do evidente. Passar despercebido pelo meio. Arrastar de mim o fora só o dentro. Ser o contrário do começo. Ser o contrário do final. Ser o contrário do contrário. Deixar de ser perpétuo não sou eu mas que se chama eu. Não ver lá fora não ver lá dentro. Como corpúsculo fazer corpo com o que em mim não é mim mas que me está como corpo. Como corpúsculo compor como parte as outras partes do que se dá inteiro. Ao contrário da era. Ser a hera que sobe pelo muro fibras galhos espinhos pétalas. Fazer mel com o conluio das abelhas. Metacarpo. Cápsula acúlea. Cair para o lado que se não vê e não se entende. Tomar a parte pelo inteiro. Ser o insensível invisível inaudível inominavelmente ser sem ser sem ser ser sem ser sem ser ser certeiro.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

passar do passado



Voltar para a sala do piano. Hall de entrada. Piso de mármore. Poltrona vazia. Sentar na banqueta e de lá instalar todo o som que passa pela ponta dos dedos. Relógio da sala. Pêndulo e ponteiros. O desenho dos números. Pratos na parede. Azuis de azulejos cadeiras e alpendre. Da janela escutar os cavalos trotando sobre o calçamento. Casa vizinha outro lado da rua e o cheiro do bueiro. Areia e asfalto. Cimento nos muros. E a pedra enorme ao final da ladeira. Visitar o passado passando de outra maneira. Pelo ar da paisagem pelo entre da pele episódio no escuro. Desdobrar de camada. Desprender-se das horas despregar-se dos vínculos dos trincos e das portas. Trafegar por entre as pregas. Soltar as cordas dos relógios dos pianos e do tempo. Suspirar em solfejo e pelas narinas ver espraiar o espírito. Escapar pelo vento.



(extraído do 'livro' "onde houver vida a vida haverá de vingar")