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domingo, 21 de novembro de 2010

todas as areias eras havidas

O martírio. A tortura. O calvário. O prego a lança o cravo. Laceração. Musgo do riso. A pele a pêlo a couro a escalpelo. Vaca atavia horda da tarde desde o começo. Colina colina e o campanário de gesso. Ruas e o barro-som excremento. Toda a vigorosa vida de onde não quando. Que entranhada não cessa. Aqui. A ilusão de tempo. O passado, passando. O passado tremeluzindo na carne o que vivemos. Golfada de lava. Passos no visgo preso às pernas. Algaravia. Arrastam-se as bolas. Sempre prisioneiros.

Ser um covarde e viver o mês. E viver o espaço calendário que não cessa de abrir. O dia, esse não conheço. As horas. Os minutos. Os segundos inteiros, que eu só perco. Os ponteiros, amputados. Os passados. Os antes passados. Os que não se passaram ainda que aparentemente vivos. Ainda que visivelmente claros. Ainda que objetivos. Ainda que gravados. Ainda que anotados. Ainda que com toda toda toda a abotoadura e o pregão da tarde. Esse é o círculo o que da areia vem. E todas as areias vêm.

Trombas d'água. Ontem era assim. Hoje já não sei mais o que é de mim. De quando em quando mim. Ainda um aqui. Ainda um imenso. Mas o que é verdadeiramente mim eu desconheço. Uma palavra. Uma rima. Um verso. E nada de canto. É pura música dita aqui ligeira. Surda aos aflitos. Surda aos amenos. Surda aos malditos. Surda aos pequenos. Eixos sonoros. Não diga nunca se esqueça. Venta a golfadas mas o mar o mar o mar vaga e a nau não mais afunda. O fundo lama azul destroços. Tudo é um dia o sentir de outros troços. Ouvir dizer esbarrar membranas de ouvidos. Ser in-matéria bordoar as carnes dentro os já sentidos. Esgueiram-se as priscas eras. Era assim. É de um com menos. Todas as tardes e ainda os camelos. Isso só arde isso só plange isso é viver ao bater das côvadas de tempo. Mesmo que arda trata primeiro. Devir é o esquecer intenso com todas as carnes que já viveram.
(extraído do livro "um mundo outro mundo".)

2 comentários:

  1. MARA
    MUITO BONITO!
    DEVIR,
    ESQUECER E JUNTAR-SE A TODO ESQUECIDO,
    TORNAR NOVO O JÁ VIVIDO,
    SENTIR O DESPERCEBIDO.
    BEIJOS
    VERA

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  2. Noooooooooossa, que fundo! Falava um pouco (bem pouco) disso tudo com a Ivana na quarta. E dizia: "Não há o que mudar, quando tudo o que somos está em nosso sangue".
    Beijo!

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