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quinta-feira, 21 de junho de 2012

um povo


Encontrar um povo. Um aquele que sem dúvida ainda está em lugar nenhum. Aquele que sem dúvida ainda não se vê. Aquele que sem dúvida ruge no espaço entre o que acontece e o que se vê ou sente. Aquele aquele que não quer deixar de estar aqui. Aquele que é uma questão de olhar para fazer vir. É uma questão gutúria de galgar cada palavra até ver até dizer até notar que um povo um povo já está de ímpar em ímpar a vir.
E onde é que se encontra um povo? Na língua? No antes da fala. No que começa e não termina. No que se torna a voltagem diária de percutir com as membranas do corpo o que é que sem alarde já arde em todo o que possa ver. Não é latente. É pulsante, para quem deixa o estar ser errante. Para quem percebe a cada polir da lente, lentamente o convés descer ao nível do mar ao nível da onda e a onda a onda abarcar com sua vaga de ar mais do que com sua cúspide de água a onda abarcar o que ainda que não se veja está um jeito de ventar que vibra.
Não é todo sujeito que consegue. Não é qualquer um. É um que aceita ser o qualquer do um um um. É o que descobre, no vibrar da letra final da palavra-número um, que indefine e traz o que não se pode plausir ainda com a testa. Com o semblante, com o cérebro nem com o sextante. Ou com as ventas. O que não deixa de vir quando pousado no ato que trepida do instante. O inequívoco sem-instante.
Agora, o que vem a ser isso? Pousa nos dedos o presságio esquisito de passar isso tudo para uma história. Ou duas. Pelos menos alguns começos. E o que é que vem? Se não arranja as palavras em fatos um depois do outro até fazerem algum sentido, mesmo que não sejam de todo previstos ou vistos, não arranja mais do que dizer da febre e só colher o silêncio, o des-alvoroço.
Vamos contar. Braço a torcer. Vamos imaginar o mar. Vamos para a janela. Vamos para um lugar onde todo de todo erra:
(extraído do livro um mundo outro mundo. no livro, este texto precede o texto "três", publicado aqui em 14/01/2011.)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

acometida de primavera.


acometida de primavera.
não.
mais do que isso.
acometida de outra esfera.
mais.
acometida de toda quimera elementos partículas ondas claves de sol e de mi bemol.
acometida de circunferências de retas em fuga de escoar de águas de jatos.
acometida da força centrífuga e da força centrípeta.
acometida de forças ubíquas.
acometida do lado
               do algo
               do o
               do oco
               e
               do vago.

(extraído do livro onde houver vida a vida haverá de vingar.)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

a margem


Olhava de longe do outro lado do vidro. Eu pouco o via. Estava no espelho na sombra por dentro e fechado entre paredes e o teto da construção. Olhava de longe do outro lado e eu não via mais que um laivo do rosto uma lâmina da pele iluminada por um facho da luz solar. Olhava dali sem poder direito enxergar. O que eu via eram facas de sombras a lhe recortar a silhueta a lhe fazer do escuro chegar.
Olhava de longe e eu não via qualquer traço do que pudesse me dizer o que aquele rosto dizia. Olhava e no silêncio do escuro do outro lado do vidro considerava o que alimentava o que eu via. O que delimitava o que via. Olhava turvo um semblante pouco claro uma sombra do lado quase não delineado.
Olhava olhava através do vidro que refletia a luz que refletia o por onde eu ia o de onde eu via. Olhava na tela líquida e a imagem que vinha simulava uma fantasmagoria. Olhava indeciso as fronteiras de aviso do que finda do que era a imagem do que era o corpo que eu via. Olhava uma sombra mas a sombra que eu via ocupava um lugar preenchia em cilindro o em pé que respira o que desse lugar com seu olho o olhar com vagar e aos poucos me devolvia.
Olhava e abria entre as facas de luzes o reconhecer do outro lado o outro corpo que havia. Não quebrava o espelho não burlava a imagem não varava o reflexo. Era o ver superfície ocupada minha imagem espelhada e o oposto o escuro que em curvas e bordas se insinuava outro lado submergia inconcluso e brotava lambido pela luz que eu via.
(extraído do livro uns tantos outros.)