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sexta-feira, 27 de agosto de 2021

A carne

 A carne a pedra a relva

A tua bunda nua 

O teu líquido leite 

Lavam os meus olhos 

De todos os mal estares 

De sermos humanos.





sábado, 14 de agosto de 2021

domingo, 18 de julho de 2021

o quê sequer

 Não sei mais o que se quer. Nunca soube. Dentes esgrimas. Ventos a arrancar as salivas. Roupas velhas papéis ajuntados e toda escrita chega em nada em ninguém. Cavo extraordinária experiência mas o que vem ultrapassa o que se pode reter. Não sei mais o quê sequer. Minha vida do avesso e meus nervos sustenidos. Sou a trinca e me perco entre as vogais e os aterros. Ninguém mais. Alvorada em que se dorme. Tudo é dia e eu caminho com as mãos presas nos bolsos. O vento esvoaça meus cabelos e uma palavra só é alvoroço. Ninguém mais me houve. Estou na esquina e não sei tirar sutilezas do que é febre cansada de tanta tinta.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Cerne

 Quando olhei para minha vida toda entrecortada descobri as fendas por onde vertia sangue encontrei o ponto em que as lágrimas foram ressecadas e cheguei a ver o fim de novo. Quando olhei a minha vida toda despedaçada encontrei os dias de pura epifania e os instantes em que as visões eram derrubadas para só sobrar os escombros. Quando olhei a minha vida toda me fugia pelos lisos da agonia e não encontrava onde pôr as mãos e não encontrava onde arrumava forças para persegui-la. Quando olhei a minha vida toda alinhavada descobri os furos da agulha sobre a colcha e o que estava lado a lado parecia apenas os lapsos recortados. Quando olhei a minha vida toda feita em fugas descobri que não havia por onde escapar e encontrei de novo aquilo que me erguia e que me dava o tom. Quando olhei a minha vida toda escapada descobri que tinha fibra no que me fugia e me deixava marcas que me susteniam e o timbre e a foice compunham uma melodia. Quando olhei enfim toda a minha vida descobri que o que me fora tirado sempre esteve aqui intacto: eu é que não via.

sábado, 15 de agosto de 2020

Desde os dentes

 Estranhar a casa desde os dentes. Não encontrar o que sempre se via por aqui. Nem a luz vem do mesmo lado. Nem o ar passa como sempre. Se a metade ainda se espanta ao andar pelos corredores e reconhecer os cômodos todo o resto parece estranho e gritante até os poros. Nada mais sentir de seu nesse ambiente. Anda-se pela casa como sempre mas alguma coisa parece estar desviada fora de órbita. Nem se pode pronunciar mais lugar por aqui. Estranhar a casa desde os dentes. Nenhuma resposta encontrar se não o enfrentar os dias nesse novo destino que ainda não se sabe como ou quando nem onde ou se se é possível ancorar ao menos em um por quê. Estranhar a casa desde os dentes. Não ter mais de si nem do em volta nada que se pareça com o que era um sempre. 


quinta-feira, 25 de junho de 2020

minha mãe

Meu escrever não é fêmeo. É lápide. É quartzo. Entre as raízes e os nacos sou só toco e o que não cabe. Grutas de céus. Goivas que ardem. E ao dizer fui digo com o que me invade. Antroposfera ficou para trás. Sou cabeceira. Lâmpada cama e o termômetro da tarde. Alga que corre entre os grotões e as árvores. Sou muitas camadas ao mesmo tempo. Mas nenhuma palavra hei de dizer. Sou entre as margens e o desastre. O que se arrasta e o que é das aves. Sou o que se descabe.