A carne a pedra a relva
A tua bunda nua
O teu líquido leite
Lavam os meus olhos
De todos os mal estares
De sermos humanos.
não é poesia. não é prosa. não é literatura. não é filosofia. texto. palavra. traço. ponto a linha. entrelinha.
A carne a pedra a relva
A tua bunda nua
O teu líquido leite
Lavam os meus olhos
De todos os mal estares
De sermos humanos.
Não sei mais o que se quer. Nunca soube. Dentes esgrimas. Ventos a arrancar as salivas. Roupas velhas papéis ajuntados e toda escrita chega em nada em ninguém. Cavo extraordinária experiência mas o que vem ultrapassa o que se pode reter. Não sei mais o quê sequer. Minha vida do avesso e meus nervos sustenidos. Sou a trinca e me perco entre as vogais e os aterros. Ninguém mais. Alvorada em que se dorme. Tudo é dia e eu caminho com as mãos presas nos bolsos. O vento esvoaça meus cabelos e uma palavra só é alvoroço. Ninguém mais me houve. Estou na esquina e não sei tirar sutilezas do que é febre cansada de tanta tinta.
Quando olhei para minha vida toda entrecortada descobri as fendas por onde vertia sangue encontrei o ponto em que as lágrimas foram ressecadas e cheguei a ver o fim de novo. Quando olhei a minha vida toda despedaçada encontrei os dias de pura epifania e os instantes em que as visões eram derrubadas para só sobrar os escombros. Quando olhei a minha vida toda me fugia pelos lisos da agonia e não encontrava onde pôr as mãos e não encontrava onde arrumava forças para persegui-la. Quando olhei a minha vida toda alinhavada descobri os furos da agulha sobre a colcha e o que estava lado a lado parecia apenas os lapsos recortados. Quando olhei a minha vida toda feita em fugas descobri que não havia por onde escapar e encontrei de novo aquilo que me erguia e que me dava o tom. Quando olhei a minha vida toda escapada descobri que tinha fibra no que me fugia e me deixava marcas que me susteniam e o timbre e a foice compunham uma melodia. Quando olhei enfim toda a minha vida descobri que o que me fora tirado sempre esteve aqui intacto: eu é que não via.
Estranhar a casa desde os dentes. Não encontrar o que sempre se via por aqui. Nem a luz vem do mesmo lado. Nem o ar passa como sempre. Se a metade ainda se espanta ao andar pelos corredores e reconhecer os cômodos todo o resto parece estranho e gritante até os poros. Nada mais sentir de seu nesse ambiente. Anda-se pela casa como sempre mas alguma coisa parece estar desviada fora de órbita. Nem se pode pronunciar mais lugar por aqui. Estranhar a casa desde os dentes. Nenhuma resposta encontrar se não o enfrentar os dias nesse novo destino que ainda não se sabe como ou quando nem onde ou se se é possível ancorar ao menos em um por quê. Estranhar a casa desde os dentes. Não ter mais de si nem do em volta nada que se pareça com o que era um sempre.