não é poesia. não é prosa. não é literatura. não é filosofia. texto. palavra. traço. ponto a linha. entrelinha.
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
uma voz só uma voz
Um incompleto. Sensação escavada de um manto. Uma voz só uma
voz sem palavra ou canto. Nem um grito nem um falar ou murmúrio. Uma voz só uma
voz sem nenhuma matéria. Só o timbre de um sustenido da artéria. Uma voz que se
entoa sem canto. Vertente estéril. E nenhum passo a mais. Só o que seja o medo
o arrepelo da pele ou que outro sentido se possam dizer as coisas. Metade nem
quarto nem meio. Uma voz que se entoa sem canto uma oitava abaixo da nota
menor. Vertente sem corpo. Só o oco do pescoço que se deixa escapar pelas
frestas.
(extraído do 'livro' "afeto confesso".)
terça-feira, 24 de novembro de 2015
sábado, 21 de novembro de 2015
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
consistir outro
Um
grito um berro num finalmente entoar da voz o canto. Aquilo. O canto aquilo. Canto
que estava que era aquilo. Um só sol lá maior agora de um mim sem mais nenhum
atino. Um sol lá outro aqui por um mim uma voz uma voz que ouvida era doce era
doce cantada e vibrada. Um soar no ar som nas cordas no corpo coral da Terra. Ganhar
corpo com o corpo sonoro daquilo. Ganhar o estar de viver existir e ver em e
envolver tudo aquilo.
(extraído do 'livro' "um a um - os poros da paisagem pólen".)
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
sábado, 14 de novembro de 2015
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
este é o fim o começo
Este é
o fim do livro. Este é o fim de tudo. Finda estrada. Findo caminho. Findo
horizonte. Depois disso não tem mais nada. Não teve mais nada. Não tem mais em
que acreditar portanto. Não tem nada em que se apoiar portanto. Não tem pra
onde seguir não tem onde mais queira chegar. Este é o fim de toda a luz apesar
de ainda haver luz. Este é o fim de toda a coragem. Apesar de que para viver
isso seria bom que houvesse alguma coisa que pudesse ter esse nome coragem. Esse
é o fim daquilo que dizem haver. Esse é o fim de todo nome. Esse é o fim do que
julgam ser adequado como sendo o que seja lá o que possa ser. Nas mãos de
ninguém mais. No cérebro de ninguém mesmo. Nada que se possa falar. Nada que se
possa dizer. Nada que nem mesmo por isso se possa calar. Esse é o fim do livro.
Esse é o fim desde o começo. Esse é o topo onde só quem chega é que sabe que
chega. O alto da torre. O abismo sem fim. O suspiro final pautado no fim que
havia de ser o primeiro. Este é o fim. Este é o lugar nem um pouco solene. Onde
ninguém quer chegar. Onde não há coragem que chegue. Onde só de se chegar já
deixa de ser lugar. Já deixa de ser o que for. Este é o fim da linha. O ponto
final. O verso da folha. O fim da tinta da caneta da mão que já nem sabe por
que ainda se agita.
(extraído do 'livro' "um a um - os poros da paisagem pólen".)
terça-feira, 10 de novembro de 2015
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
um em cheio
Trepidação da atmosfera. Caldo do passado entornado no
futuro. O prisma desconcertado que se aqui orienta o pensamento ali desgoverna
o sentir. Veia do modo ocupado. O que faz sentido e o que é objetivo. A
natureza o cálculo o porvir a dor e o pé que anda no asfalto na lama e por aí.
Lampião aceso. Querosene até o meio. Da madeira escura por
onde veio saem os frisos do frio e do úmido que fica primeiro. Da pá e da
enxada recostadas na parede ninguém faz caso nesse momento. Ali aliás não tem
ninguém para testemunhar esse experimento. Só um sentir que toma toda a sala a
bacia da cozinha a madeira de tábua corrida que dá no pequeno corredor. Ali de
uma janela de uma mesa e mesmo do encontro entre a parede e o teto exalam os
vapores daquele sismo que ficou dito desde o começo.
Mas não é que não tinha ninguém tinha um eu ali. Mesmo que
isso não conte é o que limita entre o que se vislumbra e o que se põe aqui.
Isso era o de menos. Menos do que um mim. Menos do que um supremo. Era um pouco
ocupado corpo estar sentado ou em pé preparando a sopa cortando os legumes
esquentando a água.
Nada de sangue na pia. Só vegetais era o que hoje se fazia.
E mesmo que só o lampião aceso a enxada e a pá ali num de lado recostadas.
Mesmo que de madeira e frisos frios e umidade mesmo que de bacia mesmo que tudo
isso o de que não se fala de modo nenhum porque não se tem língua é o de que
fazia tudo isso estar inscrito lentamente neste texto que se imprime na retina
na tela no em cheio do cerne de alguém que por ele se arrisca.
A madeira que não era do piso. A fresta que não era parede.
A janela que não estava fechada e tudo o que fica pelo meio. Era assim um modo
em abismo de dizer tudo de dizer tanto que ninguém ninguém nessa vida pode
entender o que afinal se passava por ali naquele lugar estreito naquele casebre
sem jeito naquele escuro cantinho que se tem escuro não tem ângulo nenhum só
tem curva vazia e sem recheio.
(extraído do 'livro' "afeto confesso")
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