Trepidação da atmosfera. Caldo do passado entornado no
futuro. O prisma desconcertado que se aqui orienta o pensamento ali desgoverna
o sentir. Veia do modo ocupado. O que faz sentido e o que é objetivo. A
natureza o cálculo o porvir a dor e o pé que anda no asfalto na lama e por aí.
Lampião aceso. Querosene até o meio. Da madeira escura por
onde veio saem os frisos do frio e do úmido que fica primeiro. Da pá e da
enxada recostadas na parede ninguém faz caso nesse momento. Ali aliás não tem
ninguém para testemunhar esse experimento. Só um sentir que toma toda a sala a
bacia da cozinha a madeira de tábua corrida que dá no pequeno corredor. Ali de
uma janela de uma mesa e mesmo do encontro entre a parede e o teto exalam os
vapores daquele sismo que ficou dito desde o começo.
Mas não é que não tinha ninguém tinha um eu ali. Mesmo que
isso não conte é o que limita entre o que se vislumbra e o que se põe aqui.
Isso era o de menos. Menos do que um mim. Menos do que um supremo. Era um pouco
ocupado corpo estar sentado ou em pé preparando a sopa cortando os legumes
esquentando a água.
Nada de sangue na pia. Só vegetais era o que hoje se fazia.
E mesmo que só o lampião aceso a enxada e a pá ali num de lado recostadas.
Mesmo que de madeira e frisos frios e umidade mesmo que de bacia mesmo que tudo
isso o de que não se fala de modo nenhum porque não se tem língua é o de que
fazia tudo isso estar inscrito lentamente neste texto que se imprime na retina
na tela no em cheio do cerne de alguém que por ele se arrisca.
A madeira que não era do piso. A fresta que não era parede.
A janela que não estava fechada e tudo o que fica pelo meio. Era assim um modo
em abismo de dizer tudo de dizer tanto que ninguém ninguém nessa vida pode
entender o que afinal se passava por ali naquele lugar estreito naquele casebre
sem jeito naquele escuro cantinho que se tem escuro não tem ângulo nenhum só
tem curva vazia e sem recheio.
(extraído do 'livro' "afeto confesso")
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