não é poesia. não é prosa. não é literatura. não é filosofia. texto. palavra. traço. ponto a linha. entrelinha.
terça-feira, 31 de março de 2015
segunda-feira, 30 de março de 2015
sábado, 28 de março de 2015
lugar
Estar
morto para a grande obra. Refugar do encontro. Ao final do dia da estrada por
dentro a casa ao final do corredor. Subir a escada que dá para o sótão.
Ultrapassar o alçapão. Ir ter com a antena e a chaminé. Escorregar pelas
telhas. Quase pisar na calha. Enfim encontrar o umbral onde se sentar para
dizer raven para dizer nunca para dizer never para dizer mais ou menos more.
Sentar-se corpo comprido e escuro. Acreditar que a lua é um olho. Acreditar que
as estrelas piscam anos de luzes de longe.
Acreditar
na matéria. Antes na matéria. Somente na matéria. Matéria cava sem nenhum
mistério de nada. Matéria que a qualquer teoria ou anseio aplaca. Acreditar no
monturo no escuro no visgo que cobre o muro e descer trepadeira abaixo. Plantar
os pés no solo. Não dar mais nenhum passo. Ficar entalado entalado desse ponto
em diante. Não fazer caso do que se passou no passado. Não fazer caso do
perfume da dama da noite. Não sequer ouvir o crilo cricrilo do grilo na noite.
Ser azul como o sereno que nem parece existir. Ser do silêncio a afirmação do
que inspira expira respira. A alegria se alegria me veio de onde?
Com os
pássaros que andam calcar as plantas dos pés sobre a terra de duas em duas.
Ficar só um momento mais no escuro. No jardim tentar não sentir mais nada que o
sangue passando nas veias. Que o inspiro respiro expiro que me prende a esse
mundo que me mantém aqui a despeito do que eu queira. Olhar para os tijolos
arrumados no muro. Olhar para o caiado da cerca. Sentir que o capim molha a
barra da calça.
Não ver
como não ver quando não ver quem não ver onde. Não ver nada além do que o que
se passa por dentro de quem? Em que circunstância? Por que laivo de trinca me
chegou aquilo? Não ver o quê. Não ver o que faltava. Não ver o que nunca
faltou. Não ver a hora chegada aquela tida como do nunca. Aquela desacreditada.
Não ver não ver não ver não chegar a ver coisa alguma.
Passar
como espuma. Suçuarana por dentro da noite. Esquecer de si. Esquecer do mundo
esquecer de ser só estar dentro aqui não ter mesmo de onde. Estar dentro aqui.
Ser do aqui a expressão do que nunca pisou sobre a terra do que nunca na
verdade pôde existir sem ser por lenda. Estar sendo aqui de por dentro de uma
prega prendida prensada cerzida costurada de dentro envoltório do escuro
plissado de encontro de presente passado num tempo que nunca houve.
Estender-se
pela palma e ver dos dedos sair o que se prende a vida o que se prende o tempo
o que se prende sem nunca ter certo o que seja somente o modo de aqui existir
vibrar corpo matriz de lugar. Corpo matriz de minutos corpo matriz de distância
corpo matriz de errância corpo matriz de ao chegar ao dentro de ser estar tudo
isso ainda encontrar um verbo de angústia um verbo de angu que só faz enxergar quem
aqui chega. Debruçar sem tremer ante o ver que o que está agoraqui é um
configurar de não sei que de não sei quem de não sei de onde veio como veio de
um jeito ou de outro.
Estar
lugar estar sem ser dentro de um onde mas de outro dentro por dentro bem dentro
estar quando.
(extraído do livro "um a um - os poros da paisagem pólen".)
domingo, 1 de março de 2015
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