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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

eu desisto: o prefácio


Eu desisto.
Essa me parece a melhor forma de começo.
Um navio? Um navio o vento e todo todo o mar. E eu vendo. Balançando da janela do meu quarto. Lá de longe. Nenhuma rua, todas as que havia, entre mim e o mar e eu dentro.
Eu desisto, é assim que corre a fita e o silêncio. Tac-tac da máquina duas cores. Eu prefiro o preto. Mas o vermelho se interpõe desde que um dia quis experimentá-lo. E o meu silêncio. Tac-tac de todas as palavras teclas e letras a bater na página imprimir sua marca obsoleta. Eu desisto.
Sempre há uma janela e algo sendo escrito. Sempre há um algo que nunca parece ter sido dito. Sempre fica para frente esse momento em que se captura o mosquito com a pinça dos dedos e dele escorre o sangue vermelho como uma espécie de ungüento. Sempre há uma lâmpada e alguém de pijama. Sempre há um carro lá fora e um inconcluso aqui dentro. Sempre um copo d'água colocado sobre a mesinha. E a chuva e a vala e alguns jornais espalhados. E óculos. Estes não podem não devem não devem nunca faltar. Colocados sobre o nariz de quem quer menos enxergar.
Eu desisto. E a vela. O talvez cigarro o certeiro isqueiro. E a luz que amarela dando um ar de cortina encobrindo toda a sala.
Eu desisto.
É aqui estar sempre sempre o mesmo. O inacabado, o que pede o vínculo, o que calcula traço a traço e cruza largura e altura num trajeto de captura do ultra-pequeno. Eu desisto.
Um ponto é pouco e obstrui; antes um furo um furo um profundo furo na superfície que eu não ainda vi mas que eu invento. Eu desisto; é enfim o meu melhor começo. 
(extraído do livro "um mundo outro mundo".)

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