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terça-feira, 22 de março de 2011

globalizados II


Estranhos eles vêm em grupo, aproximam-se do seu espelho retrovisor lateral. Você consegue enxergar apenas a encruzilhada que abriga a braguilha, virilhas, tronco e coxas, num movimento contínuo em direção ao espelho. Eles vêm, você consegue ver que eles se aproximam. A mão enorme de um deles prende-se em concha ao cós da calça, isso você consegue ver. Consegue ver também, embora o recorte pequeno estreite a visão, que suas roupas são velhas, muito sujas, enquanto continuam a se aproximar. Agora perto, estreito em close, você consegue sentir a sombra ao seu lado esquerdo, rápido, quase calor da presença em gente, indigente, que chega ao lado do seu espelho retrovisor. E não pára, para seu alívio; ao contrário, passa, e você percebe que mesmo mal-vestidos prosseguem em pressa atravessando a rua, numa tentativa de encontrar espaço entre os carros para atravessar a rua, só atravessar a rua, pois a faixa de pedestres foi invadida por dois carros e uma carroça, puxada por uma menina suja de uns treze anos.
(extraído do livro Babel, é claro, publicado em 2002.)

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