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sexta-feira, 29 de abril de 2011

ante o passado

Filtrar todas as linhas que passam pelos meus olhos. Semblar-me às cores aos picos de ar às gotículas. Vapor da terra poro do espírito corporificar.
Pela madeira do piso eu conhecia quando ele chegava. Parava diante do espelho da entrada. Depositava a carteira e o molho de chaves sobre o aparador. Pela madeira do piso eu conhecia no que ele pensava. Sapatos gastos. Suspensórios altos. Chapéu pousado ao lado do espelho.
Pela madeira do piso eu desvendava todo o seu dia, raspas de ferro, roldanas fuligem e o barulho do motor. E depois colocar a gravata atada ao colarinho colado no pescoço. Entrar no automóvel e vir para a casa. Pela madeira do piso eu conhecia tudo o que o esperava a casa vizinha a sopa e a cozinha o corredor e as fotografias penduradas.
Pela madeira do piso eu conhecia quando era dele a passada.
Mas isso na verdade não era ele e nem nunca aconteceu. Eu dele nunca soube nada. Só o que conheci foi a madeira do piso que eu soube que por ele um dia havia sido pisada.
 (extraído do livro onde houver vida a vida haverá de vingar.)

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