Powered By Blogger

terça-feira, 17 de maio de 2011

o momento instante


Lendo o jornal de manhã. Grave como um semblante que vê nas notícias o que vai pelo mundo mas o que está por acontecer. Grave porque no fundo para ele aquilo pouco importa; isso é o que o papel da notícia lhe revela.
Ele está em casa. No sétimo piso de uma armação de cimento e arame que se chama prédio. Ele larga lá as notícias como elas estavam e vai até a janela ver o que é ver o que está será ali a acontecer. Nada na verdade está a acontecer é o que sei o que posso sentir. Nada é verdade nem o estrondo do prédio em frente penetrado pela aeronave. Nem as ondas que abalam o dia de muitas inteiras cidades. Nem a guerra que bomba a bomba colocada ora ali ora ali bem ali nunca no lugar onde ela deveria estar. Eu sei que vivo apartado desse mundo esse mundo inconcluso que se erige sem nenhum outro sentido do que ser movido por forças de borrascas que arrancam o que se prescrevia como sendo o caminho.
Ele nem tinha tomado o café da manhã quando ouviu a porta ressoar a campainha. Aquilo era um barulho estranho antes das sete. Não foi abrir. Ficou lá na sala em pé. Roupão aberto com o pó do café a recender o cheiro torrado pela sala. Ele ali e a campainha a tocar e acordar o dia de um outro modo, estranho e diferente do que ele sabia. Ficou parado ali o jornal largado ao lado. O café a recender e era lá do outro lado da porta o quê? a me interpelar a me querer ver? Era o quê? Ficou ali cara de grito esperando que aquilo passasse que aquilo terminasse por acontecer do outro lado da porta sem ter de me envolver. Mas era a campainha da minha porta que insistia em me fazer ver. Era aquele som que agora soava e me aguardava para averiguar o que é que seria. Ele ali em pé sem ter aonde ir mais o que fazer o que cumprir pra onde fugir sem nem ver o quê. Esperava curvo no silêncio branco que aquilo não fosse nada nada a me acontecer.
(extraído do livro uns tantos outros.)

3 comentários:

  1. É maravilhoso a espreita
    Maria

    ResponderExcluir
  2. A INCERTEZA,A INUTILIDADE DE TUDO, O SEM RAZÃO, ENFIM A ANGÚSTIA DO QUE SOMOS, DO QUE TEMOS, DO QUE SERÁ.
    O ESFORÇO A FAZER É NÃO PENSAR, ESPERAR O QUE VIRÁ, ATÉ MESMO O INESPERADO, QUE TEM QUE SER BOM, SEJA QUAL FOR PORQUE TEM~SE QUE TIRAR PROVEITO DELE.
    VERA

    ResponderExcluir
  3. O ele
    O eu
    O nós
    O laço
    A alternância do mesmo
    O momento que insta

    Isa

    ResponderExcluir