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quinta-feira, 26 de maio de 2011

por vir


Não encontrar mais que pessoas. Não poder dizer assim assomam-se as ondas. Nem chegar a senti-las todas. Ficar ali na pequena cadeira em que se sentava e ficar e ficar e ficar aguardando ainda algo que está por vir. Por vir.
Com um mesmo sorriso toda tarde cumprimentar quem por ele passa. E dizer sempre, comentar, as mesmas coisas. Como se vinte e quatro horas bastassem para sempre o mesmo parecer outra coisa. Estar no meio do caminho. A meio caminho de nada para ser nenhum. E ainda queria. Ele queria seja lá o que fosse. Todos os dias eram a primavera de seus desejos novos. Os mesmos de sempre. Os que lhe davam a ilusão de mudar todos os dias. Mas os mesmos.
Isso era um seu lado. Por outro lado nele havia aquele bater de outra esfera. Seja o que fosse isso. Ou não fosse. Ele dizia do eterno o que não queria ver mas sentia sentia sentia isso todos os dias e nem a força de toda a sua pessoa se sobrepunha a esse motor que já lhe que desde antes do sempre lhe rugia.
Isso nas mínimas coisas. Quando convivia e quando não convivia. Quando estava tranquilo e quando o medo lhe batia. No pegar de uma lauda. No colocá-la na máquina para operar a cópia. No atender ao telefone. No chegar em casa à noite e deitar-se na poltrona. No manusear do controle remoto, esse eterno já lhe ardia tanto quanto quanto quanto lhe fugia. Fugia.
(extraído do livro "um mundo outro mundo".)

8 comentários:

  1. Tem q publicar Eetá cada vez mais maravilhosa a percepção da vida atual
    Maria

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  2. Quando caminhava batia o salto no piso de madeira.

    Muito lindo!
    Beijo
    Izilda

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  3. Um sopro de intenso em minha vida... :-)
    Obrigada por escrever!

    Beijos com muitas saudades de você!

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  4. Oi, Mara,
    “Estar no meio do caminho.”
    “No meio do caminho tinha uma pedra.”
    “A meio caminho de nada para ser nenhum.”
    “Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.”
    Onde fica a Tabacaria mais próxima no meio do caminho?
    “Fugia.”
    no meio do caminho.
    Muito lindo, menina!
    Beijo.
    Lídia

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  5. A MONOTONIA DO MESMO, NECESSÁRIA, A ETERNA REPETIÇÃO DA POTÊNCIA CRESCENTE EM BUSCA DO NOVO E DE ALGO SEMPRE MAIOR.
    BEILOS.

    VERA

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  6. o por vir
    o por ver
    o por ser
    a fera
    na selva

    Isa

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  7. Oi Mara,
    Recebi seu email e conheci mais faces da sua arte. Procurei mais pelas suas palavras e encontrei esse lindo texto com um perfume drummondiano.
    Parabéns pela sua arte que alimenta sempre.
    bj
    Thaïs

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