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quarta-feira, 8 de junho de 2011

o bigode como escova

Ele vinha para mim se arrastando se esgueirando. Apoiava sua mão no meu ombro. Olhava furtivamente para trás. Olhava-me no fundo fundo no mais transcendido do meu olho e dizia: Eu ainda disso não posso falar.
Sussurrava por entre os pêlos do bigode, que usava, parecia, à guisa de cortina. Ele sussurrava no meu ouvido fitando o mais transcendido do meu olho. Sussurrava, voz de suspiro. Voz abafada pelos pêlos de cortina: Eu ainda disso não posso falar.
E depois voltava para o seu canto. O canto em que nenhuma faca de fresta de luz incidia porque era o canto que era um como que não estar ali para que pudesse ser visto. Um canto que só podia saber que havia quem pressentia que nele já vivia.
(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar")
 

6 comentários:

  1. E Nietzsche diria sussurrando: que retrato...
    :-)

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  2. MURALHAS
    PAREDES
    CORTINAS
    MÁSCARAS
    E,POR FIM, BIGODES.

    VERA

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  3. E ele sussurrava sussurrava: "Muitos ainda disso não sabem ouvir..."

    Isa

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  4. Você mais do que ninguém sabe explorar os cantos!
    Só pra lembrar que não me esqueço de você!
    Bjs,
    Vera Barrionuevo

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  5. Mara... Quando vejo essas palavras me encontro pensando como nossa língua é incrível!
    Bjs.
    Luciano

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  6. Mara,
    Lindo este canto em conto.
    bjs,zi

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