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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

de passagem


Eu poderia contar uma história ou uma dúzia de histórias de seres entre a poltrona e a mesinha de centro da sala. Ir até a janela, abrir os vidros, contemplar a paisagem. E o que eu vejo? Vejo o cada um transformado no muitos todos os que trafegam minuto a minuto perante a minha janela. Olhar de mosca. Ver em hexágonos e estarrecer o pêlo à pele de viver esquadrinhado escandido indivíduo no tempo. Perceber o diminuto na passagem de cada passante e seus todos sentidos sentidos entre. Sangue a sangue sentir-lhes o pulsar das fibras para sustentar o corpo erguido no tempo. Solo pisado com ambas as plantas do pé. Esqueleto ereto erigido diante do parapeito da janela. Colho os minutos. Passam os passantes como areia a esfregar-me a pele.
Isso é viver à raiz do avesso. Isso é pausar pela vida. E o que acontece é incompatível com o que se conta em anos. Isso é o desterro. Isto é o silêncio. E todos os momentos.
E não há o que contar, oras. Habitar ubíquo entre a pia e a porta. Prato toalha na mão. Passar café. Adoçar café. Tomar café. Beber café. Lavar a xícara. Habitar o presente do gesto que se expressa. Ultrapassar o tempo é o tempo todo passar.
 (extraído do livro "uns tantos outros".)

Um comentário:

  1. É A PURA VERDADE. CADA VEZ ME CONVENÇO MAIS DE QUE A VIDA É SÓ E TUDO ISSO.A PASSAGEM É O IMPORTANTE E VIVE-LA INTENSAMENTE.
    (O PAULO COELHO PODE SER UM BURRO OPORTUNISTA MAS ESSA VERDADE NÃO SE LHE PODE NEGAR- QUE, É CLARO, NÃO É DELE).
    BEIJOS FELIZ NATAL,VERA.

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