Nas cavernas de
nenúfares, começava assim. Nas cavernas de nenúfares em plena luz do dia que
ficava lá fora e não era luz que vinha. Nas cavernas quentes de estufas, onde
flores, caules, seivas alimentavam minha necessidade de viver um mais que muito
amplo estado de pesadelo. Nenúfares de cheiros impregnando por sua vez e desta
feita estas cavernas que são os canículos do nariz. Mesmo. E eu ali. Sombra
repentina. Nada do que mesmo que eu diga, diga, nada do que "mesmo que eu
diga vivi ou viverei é presente porque eu os digo já" nada do que mesmo
quando sombra realizar-se ensejo ensendo a vida rapsódia de muitas esferas ......................................
Mas tudo são ditos e eu digo dito de dizer que começava assim: Nas cavernas de
nenúfares por trás da proto-esfera, gerando mente ou semblante ou fibra carne
tremente que imprime senso sentido ao ver ao ver-se ao sentir-se vendo. Nas
cavernas pesadelos que se abrem para o escuro, que se abrem ao âmbito obscuro
de mais areia, mais areia cai pela cinturinha fina da ampulheta.
E desceu.
Escorregou matéria, aqui na minha frente, vejo seus pés, vejo sua cena. Ele
está ali, dignificado, em plena aventura de podermos dizer que ele, afinal,
está ali sendo. Mas... nada mais menciono, não mencio, deixo-o ali estatuído
indivíduo, aparentemente, sendo. Um lápis e uma folha de papel estavam em sua
mão direita e na outra um cigarro aceso meio fumado soltando uma fumaça que me
chegava quase trago ao nariz. Era vê-lo, e eu via... Ostentava um paletó,
riscado por alfaiate. Tecido que lhe caía perfeitamente pelo tronco.
Panejavam-lhe as calças, sobremaneira largas, em desequilíbrio em relação ao
fato superior. Ele era uma figura de vento que desabrochava todo ao se vê-lo.
Respiro, um, dois, três. Verdadeiramente se pode dizer então que ele está vivo
porque respira ou algo respira nele. Estende a mão esquerda até a boca e
traga-traga o cigarro soltando uma baforada grossa, produtiva, que se esgarça
demoradamente em seu entorno. Ele olha para o céu e pensa o que é possível se
fazer agora que depois de todo esse fluxo eu fui. Era preciso voltar a viver...
e ele então, obedecendo ao ato que o respirava, prosseguiu no calçamento em
busca de outra senda outra estada. Estava agora de costas, pensou em descer as
escadas que levam ao metrô. Leu um cartaz oferecendo garçons e kits para
festas, decorou o número de telefone de um recuperador de fitas de vídeo
mofadas, mas esqueceu de tudo ao pensar que hoje à noite teria mais uma vez que
ter com ela à mesa da casa de repouso. Pensou nos fios desgrenhados de cabelos
brancos amarelecidos e na roupa de dormir que amassada e fedendo ela estava
usando todas as vezes que ia visitá-la. Ele a amara e ela não ela não era mais
ela. Vagou mais um pouco pela calçada na esperança de poder recuperar algum
sentido para o vê-la. Largá-la lá. Deixar que dela cuidassem outros estranhos
tanto quanto ela mesma para si mesma. Quem era eu, digo ele, digo ela, com
todas as pequenas coisas que se viam... Outro de cada um o que vê ele via e via
toda vez que pensava nela ela sendo mais como era do que como agora a via. E
era uma agonia. Lembrava de quantas vezes pensara em como seria insuportável
vê-la vivendo sem mais tê-lo como aquele que ela amava. O quanto aquele amor
que o arrancava de si o arremessara aos mais intensos pesadelos de capela
pétala de nenúfares dentro. Água gota a gota, vendo aos poucos pingo de caule
que não seiva passa à toa o que caverna para dentro da flor do que não do que
não do que não veia. Submergia naquele medo de ver seu olho de pedra não
enxergá-lo como aquele que ela amava. Pensava em como preferia até que ela
morresse, por minutos; não, pensar assim também não, mas que por esse caminho
ia, ah, isso ia, muitas vezes. E no fim ela esqueceu de tudo, até de quem ele
era até de quem era ela. Seu olhar havia se tornado de pedra. Olhar de frio sem
sentido de ver ou ver outro que não aquilo que era o que ele ali deveria estar,
como é consenso entre os que ali estão.
Nas cavernas de
nenúfares era para onde ia cada vez que sentia aquela mão pousar na minha mão.
(extraído do 'livro' "uns tantos outros")
Na caverna de nenúfares para onde
ResponderExcluirvamos eu
vou nós
sempre o outro
vão
lindo reler,
isa
isa
sombra repentina/ nada é presente/ proto-esfera/ cinturinha fina da ampulheta/ estatuído indivíduo/ figura de vento/ algo respira nele/ busca de outra senda outra estrada/ mais uma vez ter com ela à casa de repouso/ e era uma agonia de capela/ seu olho de pedra/ olhar frio/ como é consenso entre os que ali estão/ mão pousar na minha...
ResponderExcluir(I´m crying)
IS-Logopeia
Esqueci de dizer que reconheci o texto já lido talvez em "Babel, é claro", é? Mas na ocasião não me pegou tão fortemente como agora, em que vivo coisas Dalí - Reli'n's crying again.
ResponderExcluirTb digo: o primeiro comentário, isa, poesia.