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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

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Pedra pedra. Vapor. Nenhuma fonte a dizer caminho a dizer abrigo. Anotava quase que o respirar dos minutos em meu caderno pardo, mal forrado e sujo. E gasto. E já eram tantos os cadernos que meu alforje pesava anos às minhas costas.
Estradas sem postes de luz são perigos. Estava em uma quando anoiteceu. Não parei. Procurava a margem com o pé para me guiar.
O que não me ocorreu o que em nenhum instante me dei conta foi que à frente ou nas costas de um lado e de outro e mesmo acima de mim não havia nesga de quimera de luz. Não havia. Estava no escuro absoluto. No irrestrito ocluso. Estava obcluso encerrado em uma estrada que eu insistia em seguir adiante me esbarrando o pé o calcanhar a sola pelo longo da guia. Operação desesperadora. Operação extenuante. Operação que me exacerbava apenas um ponto no chão a fixar. Operação que me prendia à guia a querer tatear o asfalto e seguir viagem por aquela estrada escura.
Cego? Podia ser que fosse.
Continuava andando a me guiar pela beirada construída da estrada implorando para ela continuar ali. Por tanto tempo estive voltado ao toque que não me dei conta de que até aquele momento não tinha ouvido nenhum barulho sequer. Nem grilo, nem meus passos, nem minha respiração, nem o motor de um carro.
Surdo? Podia ser que fosse.
Voz não experimentei ouvir o que disse ou sussurrei não percebi vibrar sequer em minha garganta não gotejava nem saliva.
Mudo? Podia ser que fosse.
Empenhado em encontrar os meus sentidos não percebi que a guia ou a pequena mureta que ladeava o caminho havia desaparecido. Tentei voltar meus passos para trás mas não pude senti-los tocando o chão. De modo que concluí que de todos os sentidos o tato talvez tivesse sido o pior a perder.
Restava-me a respiração. E talvez por ela eu estivesse ainda em pé. Mas não me movia ou pensava não me mover porque não sentia em mim o movimento acontecer. Mais nada sentia além de respirar. Nem medo, nem terror ocupavam o movimento mecânico de respirar.
Parado – parado? – parado ali só respirava mais nada mais nada mais nada.
(extraído do livro onde houver vida a vida haverá de vingar. )

5 comentários:

  1. Um Nonada.
    Lindo texto.
    Lau

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  2. Que desesperadora falta de sensação. Que texto sublime.

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  3. mas onde houver vida...
    não é?

    muito lindo, ainda que desesperançado.
    lembrei de caetano: "o poço é escuro, mas o egito resplandesce no meu umbigo".

    isa

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  4. É ISTO O QUE REALMENTE É. ASSIM ME SINTO. VERA

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  5. Puxa, que alívio o respirar, eu estava sufocando. Fiquei arrepiada com esse texto, me identifiquei, já senti algo assim.
    IveSampaLogopeia

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