Queria eu fazer uma obra prima irrevogável. Dessas de que ninguém tem dúvida. Dessas que até o demônio concede o elogio da crítica. Dessas que se guarda na pele no coração no sangue cada vez que ele passa de novo pelo mesmo lugar. Queria eu saber a que recorrer para fazer essa obra memorável. Seria um gesto uma fala seria argila seria luz seria fibra óptica laser fibra de vidro? Será que seria a areia? Queria eu deixar anotada a minha visita. Passar pela sala como o que nela já habita mas que ninguém ainda tinha notado.
Queria eu ter como que um caderno insuperável onde estivesse inscrito cada passo de um trabalho soberano que a todos arrasta para fora desse plano. Queria eu ter uma obra que se alinha traço a traço fagulha a fagulha com a sinfonia dos planetas com a órbita silenciosa que descrevem com a alteração provocada pela presença de uma simples bactéria.
Queria eu ser alguém que configurou para além daquilo que se experimenta todo dia uma obra tão inequívoca que revelasse o que há de sempre presente no gesto que se inventa desde sempre.
Queria eu me alojar entre os que sem nunca ter pensado nisso fulguraram o que para sempre modificou a vida aqui na Terra porque contaminou num laivo num lance num descuido uma fibra nervosa distraída e alastrou aquele lampejo em outro lampejo que arrastou consigo outros lampejos num tremeluzir eterno de novas ondas de matéria.
Mas agora é tarde... porque quis isso.
(extraído do livro "um a um - os poros da paisagem pólen".)
É impressionante como vc consegue escrever coisas nas quais estou refletindo... Meu Deus, como você é realmente minha madrinha... :-)
ResponderExcluirBeijo!
MINHA CARA,NÃO É TARDE, PORQUE V. JÁ O FEZ. CADA VEZ QUE LEIO V. ME CONVENÇO MAIS DISTO E COMO TUDO É INESGOTÁVEL E INFINITO,VAI ATINGIR CADA VEZ MAIS LONGE ESTE INESGOTÁL INFINITO.ESTOU CERTA DISSO.
ResponderExcluirVERA.
Oi, Mara
ResponderExcluirtd bem com vc? firme e forte, hein?
Isso me lembrou um conto (vc deve conhecer, mas pus um link com ele reproduzido, caso não conheça).
http://books.google.com.br/books?id=RaFV38Q8b1wC&pg=PA10&lpg=PA10&dq=%22nelson+bond%22+the+bookstore&source=bl&ots=Tvw5JgB2XI&sig=_M0mcT6381QsQ3kKJLzm9isKAS8&hl=pt-BR&sa=X&ei=Zeo8T8ONKJT3ggfP4cC4CA&ved=0CCIQ6AEwAA#v=onepage&q=%22nelson%20bond%22%20the%20bookstore&f=false
bjs
Cássio
1) Pra isso falta apenas vc escrever em húngaro (ou magiar, não é demais o sinônimo?), a única língua que o diabo respeita (dizem).
ResponderExcluir2) Como vc consegue? Que pontuação é essa que vc insinua e - como se estivesse graficamente ali, visível - deixa o texto redondo?
3) Mais uma vez: ... e depois diz que não faz poesia ...
É muita emoção, Mara, obrigada por me incluir, me avisar.
Beijo
IveSampaLogopeia