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quarta-feira, 21 de março de 2012

o que já está ali

     Antes do átomo. Antes do ato. Gesto de rur. Cor ver. Cor ver? Cavar. Onde encontrar o além da partícula. Parcela pedaço o que vara a vida toda a matéria o pensamento o que cava vibra o que não se pega mas que não deixa de se sentir com um senso que não é só o do tato o do sangue. Som de sub-clave, seja lá que sentido isso tenha para o músico. Som antes do som cor antes da cor corpo antes do corpo ver antes do olho pensar roubar sub-ser.
     Não há como não contar isto que sobrevém. Não há como evitar isto que sub-vem. Não há como aplacar isto. Sem esquecer que este texto é o do rabisco. O do com que se monta umas pinceladas de história que, se dita, crida, erigida, se torna cada vez mais distante da matéria que se aporta que se aborda. Diz para além do muito confuso algo como a fronteira do indiviso.
   Saí da padaria com dois pacotes diferentes de pão. Carregava o leite e o queijo fresco na outra mão. Como sempre os passos mediam a calçada até chegar à esquina. Parar estacar ouvir o marulho violento dos carros. Deixar essa onda passar atravessar. Como sempre o momento de abrir a porta. Os pacotes úmidos passados para a mão que carrega os sacos secos. Como não molhar o pão fresco e quente com o gelado do leite? Era só um instante mas o meu afligir da contaminação do úmido me tomava o momento. Cãibra dos dedos, nó dos tendões e a porta que não se abre com um simples movimento. Isso de toda em toda as tardes em que passava na padaria. Rodava a chave separava os pacotes. Entrava em casa deitava-os na pia. Pouca miséria que assume um ar de tragédia ao reencontrar aquele que procura o pão seco o não contaminado pão quente chegado da padaria.
     O que tirar ou deixar de ver ou passar a ver neste preciso estado de escrever. O que matéria ponto por ponto se diz se deita se deixa de dizer.
      Carregava um ar de tragédia ao reencontrar o contaminado.
      Não.
     Parar ouvir o marulho violento dos carros. Deixar essa onda passar atravessar. Abrir a porta. Um instante dos tendões e a porta que se abre com um simples movimento. Toda em toda. As tardes que passava. Rodava a chave. Pouca miséria daquele que procura o pão seco o pão quente o queijo e o leite chegados da padaria.
      O que parar para ouvir.  
     Os passos que sentiam a calçada até chegar à esquina. O marulho o violento dos carros. Essa onda atravessar. O momento de abrir. Um instante de toda em toda as tardes. Passar.
(extraído do livro um mundo outro mundo)

Um comentário:

  1. Consigo ver por meio das palavras! É isso o que sinto agora, lendo esse texto, Mara! Muito bom! Bjs
    Mari

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