Eu acordei outro no
mesmo lugar, agora eu sou assim. A colcha o brilho da tarde o quarto o tecido
que cobre a cama. O comum da manta a calma que me desce ao raio e à sombra que
entra pela janela. Eu que sou outro sem direito saber quem fui. Que já não me
ajusto em minhas roupas que já de mim não fujo. Eu acordei outro agora em meu
lugar eu de verdade esqueci o de onde fui o que onde surjo. Eu acordei assim
olhando de perto cada fibra dos meus dedos pousados sobre a colcha e a colcha
sobre o travesseiro.
Foi assim: era de
alvitre que eu tivesse vindo de outro lugar. Arrumasse o caminho por onde eu ia
passar. Era mesmo uma outra pessoa que era. De quem agora eu já nem lembro.
Fiquei aqui no meu dia o dia comum a passar o que eu já nem me lembro.
Fechadura e a porta
atravessada pelo outro lado. Agora agora uma sala um tapete-sofá uma cadeira e
alguém sentado. Era o intruso o que dormia e ocupava esse lado? Era um algures
um sem luzes um viver confuso sobre aquele estado. O como um outra pessoa o que
não se vê pelas costas. Quando a luz do abajur dá um close num anoitecer de
febre.
Eu acordei outro
este aqui e quem sabe?
Era de um susto
esse que vinha e via areia onde antes não sabe direito o que via. Se é que via.
Era um desdia outra esfera. Numa casa difusa um fulgurar de outra era. Era um
passando do passar do outro lado do muro era um futuro do outro não estava
claro e nem era escuro.
No semblante não
havia nem as linhas nem os horizontes tudo era uma concha onde se juntam
correntes de muitas águas. Era um ralo que não suga pelo contrário espalha
espirra ponto disperso de todas as praias.
E o que se poderia
dizer de mim sem os meus óculos. Eu era um Clark sem capa e estava ausente. E
no entanto estava ali, por outro lado, de outro modo, de um jeito estranho uma
outra maneira de ser gente. Eu nem via ou reconhecia. Era o que cria e que
vinha um jeito de inventar divergente. Nem desse mundo nem outro mundo um total
estranho do qual nunca se disse ou se viu ou se provou nunca um local do qual
se possa dizer um isso ou um isto. Um estar errante por outro lado difícil de
crer impossível descrever. Um mundo algum um lugar nenhum zona do nenhum
instante cúspide do vácuo abstruso lugar de onde algures já se possa dizer.
Era o vagar vagante.
Você jura?
Com quem falo?
Aqui não há quem
possa dizer ou ouvir?
Aqui vai do que
aconteceu.
Você viu? Ou caiu?
Ou vagou? Ou já foi desse mundo ou de lá cogitou?
Cava cúspide alvo
do olvido e do que não dizer. Outro lugar terra nenhuma de que se possa volver.
Você viu? Ou
ocupou? Você dali já voltou?
Nem a sombra franja
ou fagulha nem o vento ou o vulto nem o lugar nem o minuto.
Você viu ou voltou?
Um trepido
burburinho um silêncio descontínuo um lampejo borda do dia um fulgurar turbulento
um fraquejo descair um lampejo de meios. Outro lugar nem um algures vasto um
mirar sem lá estar um de outro modo ver.
Você viu ou de lá
voltou?
Você um outro que
habita. Você um outro tão outro que nem direito posso textemunhar o que foi já
que outro vou outro encontrar por outros meios.
(extraído do livro um mundo outro mundo.)
Profundo...
ResponderExcluirBjs.
Mari
Textemunhei... :)
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