Powered By Blogger

quinta-feira, 7 de março de 2013

após tirar tudo



Tolo. Tolice. Falar disso. Tentar ver. Sobrevoar. Todas as maneiras de não ver. De não sentir. Só um pedaço. Pelo funil. Com a ponta mais estreita apontada para o outro lado. O que não vejo o que ninguém viu. Vergar de tanto forçar os olhos pra ver. Querer abater todos os corpos da caça numa só tacada. Sobrevoar. Já disse isso. Não fazer metáforas. Estar lá fora. Nenhuma morada. Nenhuma pousada. Deixado ao relento. Ao sereno. Ao surdo da noite breu brenha por onde senda que não se acha. Estar ao fundo da madrugada. Sem casaco. Nem manga comprida. Com só o corpo exposto a todo o frio a tudo o que há para ver. Ao que ninguém concebe porque nunca houve quem soubesse de alguém que viu. Na mais neutra das noites. Em mangas de camisa. Podendo sentir de tudo só a experiência na carne de tanto frio. E tanta fome. E tanta sede. Ser só o corpo e todas as suas urgências como açoite. Ficar do outro lado da porta depois que passaram a chave. E da soleira não vislumbrar nenhum gramado nem a calçada vizinha. Nem as outras casas. Nem o telefone público. Nem uma só que seja cerca onde se possa amparar o corpo ou descansar a carne. Onde se possa ao menos pousar os olhos para reter o olhar que se espicha e nada nada nada nesse escuro avista.
(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar".)

3 comentários:

  1. Onde houver vida a vida haverá de vingar?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. a vida vinga no corpo vivo deixado lá...
      como disse espinosa: não sabemos o que pode um corpo.

      Excluir
  2. "Estar lá fora. Nenhuma morada. Nenhuma pousada. Deixado ao relento. Ao sereno. Ao surdo da noite breu brenha por onde senda que não se acha. Estar ao fundo da madrugada. Sem casaco. Nem manga comprida. Com só o corpo exposto a todo o frio a tudo o que há para ver."

    ResponderExcluir