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quarta-feira, 18 de junho de 2014

um inverso II



Eu poderia descrever o descompasso. Que é o coração que parece que pulsa na boca do meio da barriga. Eu posso até destacar dessa sensação um gesto de acometimento um suor frio pela testa a escorrer pela fronte e pelas têmporas. Posso dizer para fora desse gesto o que é o resto que se ensembla uma cara uma sombra uma quase careta. Posso ainda apontar para o viés de cabeça o onde pousar despalmado dos braços e um leve rasgar em sorriso criança nos lábios. Um redarguir de outro mundo um estar de todo modo estranho. Mas depois disso uma chuva de afagos de superfícies tépidas como a temperatura do corpo. Um como que descobrir no desconforto no desconcerto no descontente no aparentemente desconexo aquilo que se experimenta como um certeiro momento sem espaço sem tempo. Um como direi como dizer um sem instante que se insurge no entrechoque da carne e do sangue com algo que não se define. Um pulso que vibra sem veias um estalo sem nada que se oponha ou a que se aponha. Um instante sem instante a mergulhar irrevogavelmente na substância dentro da qual desde sempre estivemos imersos.

(extraído do livro "onde houver vida a vida haverá de vingar".)


Um comentário:

  1. * Privilegiada chuva de afagos, bem-vinda seja e que espante sempre o descompasso.
    * Novo tocante minimalismo "Um pulso que vibra sem veias".
    IvSam

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