Estrondo do dia ao peso da noite. Toda a claridade ardia e
eu não tinha mais como prosseguir. Não era mais pensado o universo. Estava como
que acomodado naquela hora fria. Estava superado o verbo a fala a articulação
da língua.
Mas começar a história assim não fazia mais o menor sentido.
Se não havia verbo palavra articulação que era escrito naquilo que dizia? Como começar
esperanto. Não era língua. Código nenhum havia.
Como prosseguir porém se ninguém entende ou pode ler? Como prosseguir
se nem mesmo se pode escrever? Essa história incontável incontornável. E que no
entanto havia. Algo que não se conjuga e que pode fazer viver.
Escrever fora da letra. Escrever fora da escrita. Nenhuma palavra
que seja e que no entanto possa ser dita. Escrever do contrário da verve. Escrever
do passado impressinto. Vocábulo inestável. Imensuração do abismo.
Como se não quando quem ou onde? Queda linguagem argila. Colecionar
de fonemas de grafemas tartamudaria.
Sobrevoar a paisagem. Nenhum olho e mais ninguém se avista. Estar
do outro lado da fresta sem ter nada que se diga. Sem saber sequer que vê. Sem
conjurar o que resta. Sem se saber haver.
Não que seja ninguém mas um canto que nunca está só. Uma orquestra
uma conferência uma sinfonia. Eco de muitas vozes no silêncio da nenhuma só coisa
dita. Nem som nem verbo.
Uma voz arrancada do espaço. Um grito arrancado da voz. Um
sentido arrancado do grito. Uma palavra larvar. E mais ninguém a ouvir o que foi
dito. O intradito inaudito.
(extraído do livro "afeto confesso".)
Nenhum comentário:
Postar um comentário