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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

isto que se não conta



Estrondo do dia ao peso da noite. Toda a claridade ardia e eu não tinha mais como prosseguir. Não era mais pensado o universo. Estava como que acomodado naquela hora fria. Estava superado o verbo a fala a articulação da língua.
Mas começar a história assim não fazia mais o menor sentido. Se não havia verbo palavra articulação que era escrito naquilo que dizia? Como começar esperanto. Não era língua. Código nenhum havia.
Como prosseguir porém se ninguém entende ou pode ler? Como prosseguir se nem mesmo se pode escrever? Essa história incontável incontornável. E que no entanto havia. Algo que não se conjuga e que pode fazer viver.
Escrever fora da letra. Escrever fora da escrita. Nenhuma palavra que seja e que no entanto possa ser dita. Escrever do contrário da verve. Escrever do passado impressinto. Vocábulo inestável. Imensuração do abismo.
Como se não quando quem ou onde? Queda linguagem argila. Colecionar de fonemas de grafemas tartamudaria.
Sobrevoar a paisagem. Nenhum olho e mais ninguém se avista. Estar do outro lado da fresta sem ter nada que se diga. Sem saber sequer que vê. Sem conjurar o que resta. Sem se saber haver.
Não que seja ninguém mas um canto que nunca está só. Uma orquestra uma conferência uma sinfonia. Eco de muitas vozes no silêncio da nenhuma só coisa dita. Nem som nem verbo.
Uma voz arrancada do espaço. Um grito arrancado da voz. Um sentido arrancado do grito. Uma palavra larvar. E mais ninguém a ouvir o que foi dito. O intradito inaudito.

(extraído do livro "afeto confesso".)

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