Voltar para a sala do piano. Hall de
entrada. Piso de mármore. Poltrona vazia. Sentar na banqueta e de lá instalar
todo o som que passa pela ponta dos dedos. Relógio da sala. Pêndulo e
ponteiros. O desenho dos números. Pratos na parede. Azuis de azulejos cadeiras
e alpendre. Da janela escutar os cavalos trotando sobre o calçamento. Casa
vizinha outro lado da rua e o cheiro do bueiro. Areia e asfalto. Cimento nos
muros. E a pedra enorme ao final da ladeira. Visitar o passado passando de
outra maneira. Pelo ar da paisagem pelo entre da pele episódio no escuro.
Desdobrar de camada. Desprender-se das horas despregar-se dos vínculos dos
trincos e das portas. Trafegar por entre as pregas. Soltar as cordas dos
relógios dos pianos e do tempo. Suspirar em solfejo e pelas narinas ver espraiar
o espírito. Escapar pelo vento.
(extraído do 'livro' "onde houver vida a vida haverá de vingar")
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