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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

três

Um a um os poros da paisagem pólen convergem os elementos do que vem vindo sempre. Respiração do infinito cada límetro do que dia a dia.

A miragem.

Da janela podia ver o horizonte mar e as embarcações atravessar a linha. Era azul todo dia. Mesmo que fosse cinza. E balançava. Nunca nada estava estável naquela toda hora mirada.

Dentro da casa era escuro. Tinha a pedra ao pé da escada. E também vinha água em cascata por suas escarpas. Era de um escuro de contraste com o dia. A luminosidade ardia acendida e abafada quando vivida de dentro da casa.

Ela passava. Eu passava. Ele passava e da bandeja de cobre se arremessavam todas as três taças.

Estávamos vivos. Era mês. O barco chegava agora ali todos os dias. Vivíamos inseridos dentro daquela casa. E as lascas de água jorrada da pedra sobre o assoalho de pedra mineira umedeciam aos poucos todo o solo por onde nossos pés pisavam.

Isso queria dizer que mesmo a lareira nos dias frios com suas línguas de azul e o crepitar de troncos, mesmo ela jamais fora capaz de tornar menos úmida nossa jornada.

Pisada descalça. A pedra fria. O limo escorrido que se lhe assomava. Todo o dia era esse alvorecer crepúsculo que nos aprisionava e o mar o horizonte das ondas o balançar da linha além para o onde olhar cada vez mais como o limo se aproximava.

Éramos três. Parecíamos únicos. Mas nos deixamos levar pelo abordar da água. A fonte fria que vinha em cascata e já tomava os primeiros degraus da escada. As paredes de um escuro musgo a absorver nossos gritos engolir nosso riso.

O limo da mata da terra do rio já tomava toda a fachada. Por dentro e por fora. As janelas já não se fechavam. A lareira deixara adormecer a sua última brasa. Éramos silêncios os três e o nosso pesar era o solo dos nossos dias.

Quem pode ser tão só? Quem pode ser tão triste?

Éramos escuros e o nosso dia a dia.

Até que um fugiu. Pela janela aberta um de nós escapou. Nenhum pôde ver ao certo quem de fato foi. Já disse: estávamos imersos.

Um escapou e agora somos todos a lamentar sua fuga. Aquele que ficou. Fuga daquele um que pela janela se despede do musgo e da água e da pisada fria.

Agora é pela floresta. Rasgando a pele dos pés e do rosto. Esbarrando as mãos arremessando-se e às pernas nos passos na rápida corrida. Resfolegar da hora encontrada. Respirar do ar escapado. Encontrar a praia de dentre os troncos os ramos as árvores. Dormir sobre as dunas.

E do outro outros aqueles três que para trás foram deixados só reter a imagem da lua que nessa noite é só uma sombra uma circunferência vazia.

(extraído do livro "um mundo outro mundo".)

2 comentários:

  1. Que frio... e muito bom!
    A cena da floresta lembrou-me uma história. Ela conta uma saga feminina. A donzela sem mãos entra na floresta, se fere, mas a floresta a recebe e dá-lhe de comer. O conto é lindo. O que eu conto e o que você conta.
    Beijo!

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  2. Mara
    Quantas cores! Quantas formas! Quantas vozes! Lindo!
    Izilda

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