Um a um os poros da paisagem pólen convergem os elementos
do que vem vindo sempre. Respiração do infinito cada límetro do que dia a dia.
A miragem.
Da janela podia ver o horizonte mar e as embarcações
atravessar a linha. Era azul todo dia. Mesmo que fosse cinza. E balançava.
Nunca nada estava estável naquela toda hora mirada.
Dentro da casa era escuro. Tinha a pedra ao pé da escada.
E também vinha água em cascata por suas escarpas. Era de um escuro de contraste
com o dia. A luminosidade ardia acendida e abafada quando vivida de dentro da
casa.
Ela passava. Eu passava. Ele passava e da bandeja de
cobre se arremessavam todas as três taças.
Estávamos vivos. Era mês. O barco chegava agora ali todos
os dias. Vivíamos inseridos dentro daquela casa. E as lascas de água jorrada da
pedra sobre o assoalho de pedra mineira umedeciam aos poucos todo o solo por
onde nossos pés pisavam.
Isso queria dizer que mesmo a lareira nos dias frios com
suas línguas de azul e o crepitar de troncos, mesmo ela jamais fora capaz de
tornar menos úmida nossa jornada.
Pisada descalça. A pedra fria. O limo escorrido que se
lhe assomava. Todo o dia era esse alvorecer crepúsculo que nos aprisionava e o
mar o horizonte das ondas o balançar da linha além para o onde olhar cada vez
mais como o limo se aproximava.
Éramos três. Parecíamos únicos. Mas nos deixamos levar
pelo abordar da água. A fonte fria que vinha em cascata e já tomava os
primeiros degraus da escada. As paredes de um escuro musgo a absorver nossos
gritos engolir nosso riso.
O limo da mata da terra do rio já tomava toda a fachada.
Por dentro e por fora. As janelas já não se fechavam. A lareira deixara
adormecer a sua última brasa. Éramos silêncios os três e o nosso pesar era o
solo dos nossos dias.
Quem pode ser tão só? Quem pode ser tão triste?
Éramos escuros e o nosso dia a dia.
Até que um fugiu. Pela janela aberta um de nós escapou.
Nenhum pôde ver ao certo quem de fato foi. Já disse: estávamos imersos.
Um escapou e agora somos todos a lamentar sua fuga.
Aquele que ficou. Fuga daquele um que pela janela se despede do musgo e da água
e da pisada fria.
Agora é pela floresta. Rasgando a pele dos pés e do
rosto. Esbarrando as mãos arremessando-se e às pernas nos passos na rápida
corrida. Resfolegar da hora encontrada. Respirar do ar escapado. Encontrar a
praia de dentre os troncos os ramos as árvores. Dormir sobre as dunas.
E do outro outros aqueles três que para trás foram
deixados só reter a imagem da lua que nessa noite é só uma sombra uma
circunferência vazia.
(extraído do livro "um mundo outro mundo".)
Que frio... e muito bom!
ResponderExcluirA cena da floresta lembrou-me uma história. Ela conta uma saga feminina. A donzela sem mãos entra na floresta, se fere, mas a floresta a recebe e dá-lhe de comer. O conto é lindo. O que eu conto e o que você conta.
Beijo!
Mara
ResponderExcluirQuantas cores! Quantas formas! Quantas vozes! Lindo!
Izilda