Powered By Blogger

quarta-feira, 27 de julho de 2011

acordando


Hoje ele sentou na cama como sempre voltando-se sobre o lado direito. Pousou o pé direito outro esquerdo olhou para o despertador: 6h30. Olhou as cortinas da janela a penumbra persianas o carpete caramelo calçou com os pés secos os chinelos. Hoje ele se ergueu da cama passo seguro e certo do caminho enxuto do vou convicto pelo mundo caminhar resoluto até chegar ao banheiro. Olhou a pia do lado direito e como sempre fazia acendeu o isqueiro encetou o cigarro entre os lábios pálidos e tragou baforando a grossa alegria do nascer de mais um dia. Mas isso era pura mentira. Isso não era nunca fora ele.
Deitado na cama pensou contra-rumos contramenos arrancou do seu rosto mais um pêlo. Virou-se para o lado esquerdo o esquerdo lembrou-se da dor que nunca ficava por menos. Dormiu mais meia hora e sonhou com seus passos deitados ao assoalho de lajota clara e cimento. Olhou a janela mastigando a manhã arrancou uma pulga que se alojara atrás do seu cabelo. E sorriu pleno dia sem pijama ou calção camisola diáfana ouviu da janela a passarinharia da primavera.
Hoje ele acordou pelo meio. O café o café deita rápido na xícara seu cheiro de pós-barba me agita onde foi que deixei a minha maleta. Maçaneta girada da porta para fora o caderno a carroça vou de trem vou de balsa alcançar a outra margem que se deixa dar a ver antes de chegar à sala. Do rádio do carro das estações entrevistas o fogão a vasilha caçando o começo onde é mesmo o começo que não agora ainda. Outro dia outro dia o corado céu a nuvem a estria o alforje jogado ao ombro o pé na trilha a trilha. Quase barco o meio lume alvorecer outro alvitre a janela do quarto a sala o mármore a esquadria a esquadria. A torre de igreja o pé que passa o olhar que fita o chão de linóleo que não se fixa que não se fixa. No papel a folha pautada o último ponto marcado daquele findo trecho. Agora já meio dia o que fazer com essa toda luz do meio-dia quando do sol todos fogem quando dos olhos todos fogem e nem há sombras na clara do dia tudo é feijão e um incidir de margens nítidas sobre as fronteiras dos somos o que vemos ao menos. Nem uma imagem além da luz estrondo de luz rompendo o azul. Bordeja contudo em si a sombra que se esbate e que só se experimenta se se acorda a tempo de preparar o café da manhã. Quando de fato é manhã. Do lado esquerdo deitado abriu os olhos e viu o que afinal estava fazendo ali.
(extraído do livro uns tantos outros)

3 comentários:

  1. lindo. nem mais. nem menos.

    isa

    ResponderExcluir
  2. QUE JEITO MAIS LINDO DE DESCREVER O "SEM GRAÇA" DO COTIDIANO.
    É INCRÍVEL COMO O BELO PODE ESTAR EM TUDO! (ASSIM COMO O O FEIO). É A GENTE QUE FAZ.

    ResponderExcluir
  3. ESQUECI DE ASSINAR.

    VERA

    ResponderExcluir