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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

na nave



Espaço de matéria vaga. Nem comando ou capitão nem piloto governava a nave. Ele tinha acordado ali depois de quanto tempo? Não podia ver. Só via que a nave vagava pelo espaço a nave não navegava. Não navegava a nave só vagava. E ele ali de outro século. De outro dia. Olhava para tudo e via que não podia mexer em comando algum para ir a lugar nenhum porque ali não havia nada que para ele se parecesse com um comando. Quase não podia respirar de tanta solidão e medo que sentiu quando viu que estava ali a navegar na nave que não navegava na verdade só vagava. Olhava e olhava e olhava e olhava a procura de um comando em busca do capitão. Nada. Nem um só botão. Nem uma só alavanca. Nada que se parecesse com um timão ou com um painel ou com coisa alguma. Tudo ali era parecido com nada que se parecesse com algo que ele conhecesse. Ficou ali de pescoço e corpo virando procurando. Não tinha passos porque parado só podia naquele tudo o que sentia só podia olhar e olhar e olhar a procura de um simples instrumento. Não havia naquela nave nada que se parecesse com uma possibilidade de governo de controle para a navegação pensou ali nada naquela nave que o fizesse poder parar de vagar. Sentiu que seus pés não pisavam em chão. Não tinha nada ali onde se segurar. Depois que sentiu isso foi de vertigem em vertigem pensando que seu corpo caía mas não caía. Nem voava. Seu corpo o mais próximo que fazia era dizer que vagava.
Quem era tanto de dizer-se ali. Incomensuras. Inconjeturas. Não podia averiguar nada. Vagava na nave que vagava por sua vez no espaço. De que tempo? Em que medida? Ele queria se lembrar num esforço como fora parar ali mas o que só podia naquela vaga era se dar conta de que nenhum comando dominava. Depois começou a ver a chegar construir que de onde lhe vinha que aquilo era de fato uma nave? Só por ver o espaço e o ao redor de estrelas e galáxias? Só por ver que ali havia um quaquilhão de intercambiáveis astros esferas que em elipses se faziam? Passavam-lhe por sobre os olhos às revolutas infinitas bolas dos mais dimensionados tamanhos. Era ver como havia um modo de ver sem chegar a perceber o governo ou o sentido do que via. Era dentro de uma nave, isso ele concluiu que só podia. Mas era aquilo em que lugar houve espaço para se dar esse acontecer? E por que só ele vivia aquilo de estar vagando dentro sem saber direito do quê? Ele não se lembrava de nada. Ele não se lembrava de coisa alguma. Ele só fazia era estar olhos e rodopios de viver aquilo de tantas esferas das mais esquisitas eras a lhe rondar circunscrito. E era dizer que ele via ao mesmo tempo que sentia lhe penetrar por dentro as membranas daquilo que chamou planetas daquilo que chamou esferas daquele circuito que para ele descreviam elipses. Era de ver como nele as bolas todas em todas tamanhas se imiscuíam e lhe faziam mais que cócegas lhe davam a completa plenitude impressão de ser tudo aquilo de estar dentro de ser dentro e aquilo. Era uma circunvisão infradifusa corpo celeste qual o quê? corpo matéria esgrima de todos os contatos com muito mais do que mais via vivia experimentava pensava ou sentia.
(extraído do livro um mundo outro mundo.)

3 comentários:

  1. Bom dia, Mara!
    Gosto desse texto. Quando me chegou, eu estava vendo imagens de um link que coloco aqui, e pensei na nave de uma igreja - olha só!
    http://www.lemonde.fr/culture/portfolio/2012/11/28/pinsel-le-baroque-geometrique-au-service-de-la-foi_1796088_3246.html
    Depois, comecei a ler e fui lembrando de um livro que adorei - A ilha do dia anterior. Mas tb não era essa nave navio...
    E fui me surpreendendo.
    Bj.
    Su

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  2. "Across the universe", "2001, uma odisseia no espaço"... O texto foi me levando para coisas assim, admiráveis. Mas penso que você descreve, não sei se de propósito, o sentimento do feto no fim de "2001, uma odisseia no espaço". Adorei o texto, as imagens que me vieram e tudo o que senti. A identificação foi imediata, pois já fui feto. bj*!*bj, IveSampa

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  3. Adorei o texto. Adorei ler, sensações, caíndo incontrolávelmente no espaço nada. Fui me lembrando de para-quedas. Surpreendente!
    Bjs,
    Rosiane

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