Pano de coberta laranja. Tapete de sala fechada. Cortina
cobrindo até o fim da parede. Sofá com manta jogada. Tudo e a luz do pequeno
abajur acesa. O cinzeiro cheio de pontas e cinzas. O isqueiro sobre a mesa de
centro e no meio dela toda a letra escrita. Encontrar a terra onde eu vivo. O
pedaço de chão que é só meu. Encontrar o minuto que habito. O ritmo dos
compassos e dos avisos. Os números desencontrados daquele dia. A hora perdida
perdida. Encontrar nos trajetos perdidos a respiração de dentro da casa.
Encontrar o que se deu o interdito o que ficou ecoando no corpo o que sumiu
pelo sangue e pelos anos o que se foi sem nunca sair de dentro do peito.
Nenhuma palavra mais dizer sobre isso. Dizer tudo sopro e soprar tudo num sopro
sem frase.
(extraído do 'livro' "afeto confesso")
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