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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

tarde



Já era muito tarde para dormir. Fica repetindo isto – tarde. Da noite complica o verbo que nunca se conjuga o começo ou o que se expande. Já era muito tarde para dormir. E abrir um livro consultar a rede ligar o aparelho de imagens não fazia mais sentido ali. Já era muito tarde para dormir e mesmo que tentasse vinha aquele sobreacordar.
Já era muito tarde muito tarde. Não havia disso fugir. Era ficar sem incorrer em nenhum atalho. Era sentir aquilo sem ter como fazer para sair. Nada que pudesse mais servir de escape. Já era tarde não restava mais nem o espelho. O ar estava frio e nem mesmo o sol se pondo ou levantando dava um fim àquilo de já ser muito tarde. Muito tarde para dormir. Sem mais o que fazer se não permanecer acordado. Sem um livro sem rede sem nenhuma outra imagem. Era ver era sentir arrefecer desguarnecer deixar de ser aquele que ainda poderia dormir mesmo que já fosse tarde.
Era olhos. E postura. E o corpo faminto de um gesto sem nada encontrar que pudesse arredá-lo daquele estado de estátua. Era parado ali. Aquilo tudo passando e nenhum sentimento de marasmo.
Era já evidente que por algum caminho se embrenhara. E de lá já não podia sair. Estava ali num espaço entre o que sejam as possíveis coordenadas. Nem um canto. Nem circunferência. Nenhuma curva ocupada. Estava líquido passava passava e passava. E sombra frequência fragílima já podia surpresa ser notada.
Mais nada. Mais nada. Mais nada enfim.
Acordava.

(extraído do 'livro' "um a um - os poros da paisagem pólen")

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