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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

nheco-nheco de nhenhenhém

A cadeira de balanço fazia nheco pela quarta vez nesta tarde. E ela não moveu uma palha para ouvir aquilo. A cadeira de balanço se mexendo sozinha na sala mas ela via somente o tapete. O tapete de franjas absurdas que ela havia encontrado na rua. Havia lavado. Havia secado. Havia colocado na sala. Agora ali o correr das tábuas se via interrompido por um tapete absurdo... O sol queimava a parede onde se pendurava um quadro pintado por ela um dia. Não que ela pintasse, mas esse num dia ela pintou e pendurou ali na parede para ver o que é que ia. E ele ficara ali. Desde esse dia. Fazia anos já. O relógio da sala, parado, estancava as horas uma a uma.

Ali era que ela só tinha olhos para as franjas do tapete enquanto a cadeira de balanço estalava em balanço pela quinta vez nesta tarde.

As sobras da sua paralisia ocupando-lhe a sala e ela nem percebia que o balanço da cadeira já virara cadência certa de seguidos um dois três estalos. A cadeira estalava em seu assento de treliça de palha e ela não movia uma só de sua parte para olhar para aquilo. A cadeira que agora fazia um nheco-nheco seguido a cada um dois minutos. A cadência cadência da cadeira de balanço e ela nem de soslaio olhava.

O xale do sol da tarde começava a verter labaredas laranja nos edifícios vizinhos. E ela ali. A cadeira de balanço vazia que agora ia e vinha e ela nem se dava conta disso. Estalava estalava estalava num balanço de ritmo que aos poucos a abraçava, mas ela ainda não se dava conta disso.
(extraído do livro um mundo outro mundo.)

Um comentário:

  1. Adorei a frase: Agora ali o correr das tábuas se via interrompido por um tapete absurdo... Uma bela imagem.

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