Powered By Blogger

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

um texto



Eu fico pensando no que poderia ser ainda este texto que acho que está para vir e que está inaudível invisível indizível. Este texto silêncio que não se descortina desenlaça nunca. Que está atado ao nó da língua que não vem fala não vem palavra não vem letra teclada na ponta do dedo.
Eu fico pensando no que dizir do verbo do dizível zer. Eu fico pensando que ele não poderia ter eu que ele deveria ter outro dizer que não o do verbo conjugado. E que não pode falar disso dito à tona do falado.
É uma história sem pessoa ou com inúmeras pessoas. É um as torres com todos os que passam entrelaçando-se num caldo de imanosfera. É um texto em montanha sem vale ou em multidão sem indivíduos.
Eu teria de deixar-me de lado inteira. Teria de esquecer que escrevo. Teria que abandonar o barco, definitivamente deste lado e atravessar-me até comungar da corrente o fluxo que não me espera.
Eu fico pensando e pensando e pensando e nunca que vem esse pulsar de outra esfera imanosfera que burbure borbulha sem formar bolhas mas agitando-se lá. Quem é que sou para conseguir de lá contar?
Esse texto nulo, núncio, não enunciável, não imantado ainda no meu discurso. Esse texto da nenhuma palavra da cláusula falha da ausência de discurso. Este texto re-nuncio do escrever de punho de dedos de testa de língua de forma que sempre colige um caldo. Um texto caos que diga e ao mesmo tempo prescinda da verve viciada do mesmo curso.
Um texto que começaria do outro lado da página que diria o avesso das frases o de cabeça para baixo, o dês-sintagma.
Ex-sentido. Que texto seria este? O do silêncio do nenhuma palavra dita o texto que estaria nos entretextos do que aqui já estaria inscrito.

(extraído do livro um mundo outro mundo.)

3 comentários:

  1. Entendo. Acho que este seu sentimento é semelhante ao que levou Joyce a criar Finnegans Wake (Finnicius Revém) e moveu Rimbaud para o deserto da África.
    bj*!*bj
    IveSampa

    ResponderExcluir