Eu quase podia passar a mão no rosto dele. De tão perto.
Mas não podia porque ele estava longe. Eu quase podia tocar sua pele. A sua
mão. Mas não podia. Porque ele estava obscuro. Como podia fazê-lo de mim assim tão
tanto e não tê-lo ali bem próximo? E não tê-lo como vendo-me. Como comigo. Como
me ouvindo. Eu quase podia abraçá-lo. Chegá-lo ao meu corpo. Mas não podia. Ele
estava onde.
Mas depois foi como sempre era. Um sorriso. Uma sopa no
prato. Os talheres a sobremesa e o café. A janela. O final de tarde. A novela.
E toda a vida que não era aquilo a me abrir por dentro. Ele não me via. Tudo
era parede eco corredor e uma escadaria. Tudo era um castelo alto da torre a
masmorra e nenhuma alforria. Tudo era tão sólido estrutura por dentro paredes
concreto cimento e eu uma alma passando calada sem dizer nada sem sair da
sombra.
O pátio. O jardim o estacionamento. O portão de entrada a
estrada que passava e eu aprisionada a voltar ao final de toda temporada. A
voltar para os retratos as cortinas o corrimão da escada o porão onde nada se
esconde. Onde só o que se esconde é o vazio de não ter por onde.
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