Nenhuma
montanha para subir. Nenhum rio que atravessar. Nem areia nos passos a impedir.
Nem cacos ou brasa a machucar. Nada áspero ou pontiagudo. Nada que rasgue ou
dilacere a carne. Nem um campo ou canteiro de urzes. Nem arame farpado ou tiros
cruzados. Nem um desafio do corpo ou do mundo. Nada do fora que se possa
vencer. Nada a que sucumbir. Nenhuma fronteira na beira do dia. Nem um fogaréu
que atravessar.
Só ali.
No pórtico da sala. Poltrona sofá mesinha de centro calor de almofadas.
Abajures acesos. Cheiro de sopa na sopeira. Mesa posta guardanapos. Todo o jogo
de pratos e os talheres arrumados sobre a toalha. A humanidade ali e todo o inferno que lhes navega
por dentro.
Todo o
inverno de viver aquele aparente tranquilo tão quente tão calmo e sereno. Sem
guarda de si sem ter para onde fugir sem ter como acordar antes de enfim constatar
que sim se tratava de um simples pesadelo.
(extraído do livro "um a um - os poros da paisagem pólen".)
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