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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

enredo



Eu poderia escrever pelas bordas. Pintar pelas bordas. Coser pelas bordas. Caminhar pelas bordas. Olhar pelas bordas o todo como quem faz o invento dentro por dentro sem que desse dentro nada se cave acompanhe ou destrua. Eu poderia somar inimigos escrever cometendo barbarismos usar garranchos em lugar de linhas que se desenham pelo horizonte da página. Eu poderia enumerar nesses ritmos inscrever nos lados os dígitos confrontar curvas e cordas costurando entre os grafismos um entrever entre a pauta e o caderno de exercícios. Eu poderia compreender com minha letra toda a aplicada linguagem das rimas ser tomada por imagens prismas inaugurar todo um salão de espelhos focos e reflexos. Mas eu não sei como fazer isso. Fico aqui com o caderno no colo evocando o que se desponta. Anotações da camada do avesso. Não faço obra nem descanso do intento. Fico aqui entrecortada com a visão do abismo e toda carga de um relâmpago a triturar minha parca expressão do que deveria ter sido haurido como texto plausível do que deveria fazer um apelo do que deveria estabelecer como começo. Mesmo.

(extraído do 'livro' "afeto confesso")

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