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sábado, 13 de fevereiro de 2016

o estreito da fresta



O que já estava morto desde o início? Fadado ao não? Nada? Na vida nada existe traçado. A vida não existe sem se ver modificando. O que não se vê para além desse não? Quando se está de viseira. Quando se usa um monóculo. Quando se vê somente o que acontece diante daquela fresta.
Quarto escuro. Cama perfume. E uma mão. Que passa pelo cabelo. E a respiração. Hálito quente. Quem poderia ser que respira aqui ao lado? Uma presença. Em que dimensão se amontoam os corpos nos cômodos pegados? Cama berço criado-mudo tapete cortina janela que dá para a casa ao lado. Toda a luz se avizinha de manhãzinha e sempre já era tarde. Respirava esse alguém toda a noite inteira aqui bem perto ao lado. Mas ninguém nunca esteve aqui. Só o que esteve foi o hábito.
O que fazer quando o que se pode ver é apenas um pequeno pedaço? Uma franja e o mundo fica todo inteiro inteiro do outro lado.

(extraído do 'livro' "um a um - os poros da paisagem pólen")

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