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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

tudo era ponte



Tudo era ponte. Pedra. Era azul de moeda. Era cara e coroa era o gargalo da ampulheta era névoa era a solidão era do céu era a neblina dos campos o vapor da vela era o azul era tudo era o que estava por trás disso tudo e eu não via. Amanhecer mais um dia. Outra semana cortada na parede da cela ou da caverna ou do tronco da palmeira naquela ilha. Nem baú nem Trafalgar Square nem relógio de algarismos romanos sobre a torre da estação nem painel de controle da aeronave. Nem o pulso mais batia. As incontáveis horas naquela cabeceira. As inúmeras páginas lidas para ele ao longo de todos aqueles dias. Selva de febre e de agonia. Horas de lâmpada e muitas muitas paisagens vistas por trás da escotilha. Céu de relâmpagos. Carpintaria. Nuvens suspensas por sobre a tenda do final da tarde daquele dia.

(extraído do 'livro' "afeto confesso")

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