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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

aquiescer



A maior parte de mim é espírito. A maior parte de mim é erro. A maior parte de mim não sou. A maior parte de mim não veio.
Uma partícula minúscula que sobrevive e acorda todos os dias como eixo. Uma parte pequena mesmo minúscula que toma conta de tudo e que me leva ao outro lado esse outro lado em que nada nada nada tem de fato corpo estático mas é somente via.
A maior parte de mim não veio a maior parte de mim não sou. A maior parte de mim é erro a maior parte de mim não houve.
Quem quer que tenha passado por aqui tomou café há pouco. A caneca com o fundo escuro do líquido ainda quente não esconde. A cama deixada desfeita. Os sapatos do dia com barro. As marcas dos dedos na poeira deixada sobre os cantos. As pequenas lascas de vegetais trazidas pelos calçados ainda dispersas pelo assoalho. O tapete guarda os fiapos da manta usada à noite. Na mesa de centro o livro aberto e o marcador largado. A janela ilumina a poltrona em que a almofada marcada denuncia que alguém ali há bem pouco tempo esteve. As fibras de cada objeto ainda retêm o calor do braço da mão do alguém que aqui.
A maior parte de mim que aqui veio veio como onda que os olhos as mãos o corpo derramam.

3 comentários:

  1. Foi o tema da terapia de hoje... :) Desata-me!
    Ainda pendente a próxima aula. Vamos?

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  2. Gostei especificamente do 4° paragrafo. É uma cena com cheiro.Bj, Rosiane

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