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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

árvore ou o prefácio



O que não se explica pelo meio, nem se atesta. Uma busca infinita e sem reserva. O que não veio não poderia ter vindo porque nem mesmo se tivesse vindo estaria perceptível. O que digo? É preciso contar.
Então, um do que conto é vem dois e meio assim um traço de jardim. O cheiro. Porque entre as plantas confusas daquele não se pode esconder que há memória do passado há memória nas camadas de sei lá que instância do corpo o que fica na alma o que não se conclui. Os cheiros ficam todos em devir. O cheiro nunca é a coisa que o exala. O cheiro é o que nos impregna a alma pelas narinas que inspiram compelidas sei lá pelo quê. E esse travo de inapreensível me revoga a escrita do que conto, me inscreve no negrume do que é que jamais direi. Ou saberei ou serei ou conjurarei ou evocarei seria bom se não fosse assim, só que assim não é.
E estou aqui escrita inscrita cavando em caracteres essa onda infinda que não se conclui que não se distrai que não se desenlaça daqui dessas entranhas inequívocas que se me configuram para esse momento.
Então vou contar; é o que tento. Mas é cara a vida essa fagulha de vento que vem e bordoa a membrana que vibra e vibra de dentro também. É cara e havida e vigorosa nos veios nos sulcos nos poros canaletas por onde se encontram os destinos.
E preciso intercalar, que vim. Vértice ou não. Teria eu apreendido a flor daquele jardim, se a tivesse visto. Mas o que me impregnava a alma era o aroma que me impeliu a uma que fui e vivi num passado já muito distante. E nem sei se passado, já que o cheiro que me atingiu em cheio não se concretizou só me enlevou e levou para o meio. O que vim foi o que vi que o que não, se explica pelo meio. E veio.
Mas vou contar, agora — é preciso um pouco de calma comigo também. Essa é a forma de vir aqui e me interpor. Porque pousa em minha cada ponta de dedo essa força que engendra e as coisas todas ficam assim pelo meio. E eu digo que mais uma veia dessa vez se fez sentir.
Do passado acho que era o cheiro ou do porvir. Do porvir seria mais certeiro porque se imiscuiu de tal forma em novidade em gravidez que se inaugurou toda uma curva que me fez sentir inteiro o jardim, a planta, a seiva, árvore da encosta, o que vibra por todas as fibras vegetais e faz verde o que sentimos quente e que chamamos sangue. Comunicar essa sensação é habitar onipresença, omnisciência, omnipotência.
Omnipaciência, pois essa que é a história que eu intento. O do que vem do chão do caule do tronco do resfolegar das folhas mexidas pelo vento. Esse arvorecer verdejar seivar que cava no instante o que sempre está mais adiante nunca estando, sempre agulhar do vir do vem do vindo do invento.
(extraído do livro uns tantos outros.)

2 comentários:

  1. Escrito contado. É um conto. Lindo
    Bj, Rosiane

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  2. AÍ ESTÁ A MARAVILHA DO PERCEBER!
    É UM ALERTA A QUANTO NOS PASSA DESPERCEBIDO E QUANTO TEMOS A PERDER.O DESENVOLVER DOS SENTIDOS, A IMPORTÂNCIA DO CORPO E DA ESPREITA. PRESTAR ATENÇÃO!!!
    BEIJOS VERA.

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