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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

do tremor da paisagem



Da janela do vagão via a paisagem que jamais pensara existir. Tudo aqui é tão diferente do que já vivi que o que desconcerta é o medo de isso não mais viver. Pedaços de paisagem. Árvores enormes. Animais que passam. Lagoas poças. O andar lento de um bicho peludo. Os olhos pretos de uma vaca que me encara. Uma criança correndo nua um homem correndo nu uma mulher correndo nua e tudo tudo tudo passa como que por um pedaço de pano. Céu rasgado de azul. Estrada cascalho trilhos. Casas caiadas ou com o esqueleto a frio. Tudo é um nu das pessoas por esse planeta que vivem. Como estão chamas. Como estão carne como estão vivas neste pedaço pequeno que vejo daqui da viagem.
Só passo. Não fico. Tudo é um espaço que não para vai mudando o visto. Toda viagem é um confisco do que a gente nunca pensou existir e que nem agora pode imaginar direito o que é que seja aquilo. Tudo do trem fica tão vago tão em silêncio tão candente morno que nem parece inverno só porque pisca o sol a luz sobre a Terra inteira sobre esse chão.
Pinta o sol essa luz que esquenta a vista ainda que o corpo e a alma não esquente não.

(extraído do 'livro' "um a um - os poros da paisagem pólen")

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