Da
janela do vagão via a paisagem que jamais pensara existir. Tudo aqui é tão
diferente do que já vivi que o que desconcerta é o medo de isso não mais viver.
Pedaços de paisagem. Árvores enormes. Animais que passam. Lagoas poças. O andar
lento de um bicho peludo. Os olhos pretos de uma vaca que me encara. Uma
criança correndo nua um homem correndo nu uma mulher correndo nua e tudo tudo
tudo passa como que por um pedaço de pano. Céu rasgado de azul. Estrada
cascalho trilhos. Casas caiadas ou com o esqueleto a frio. Tudo é um nu das
pessoas por esse planeta que vivem. Como estão chamas. Como estão carne como
estão vivas neste pedaço pequeno que vejo daqui da viagem.
Só
passo. Não fico. Tudo é um espaço que não para vai mudando o visto. Toda viagem
é um confisco do que a gente nunca pensou existir e que nem agora pode imaginar
direito o que é que seja aquilo. Tudo do trem fica tão vago tão em silêncio tão
candente morno que nem parece inverno só porque pisca o sol a luz sobre a Terra
inteira sobre esse chão.
Pinta o
sol essa luz que esquenta a vista ainda que o corpo e a alma não esquente não.
(extraído do 'livro' "um a um - os poros da paisagem pólen")
Nenhum comentário:
Postar um comentário