Quando Paris chegou a Roma todas as
suas roupas estavam molhadas. Até os tênis. Até os ossos. Ele se lembrou como
de encontro que não trouxera nada além de livros em sua mala. Ficou ali todo
encharcado com u’a mão segurando o corrimão e a outra segurando a alça de sua
arca. Lembrou-se de que nem livros ele tinha trazido ali. Lembrou-se aliás de
que nada do que havia nela ele se lembrara de ali ter colocado.
Quando Paris chegou a Roma debaixo de
um enorme pé d’água. Lembrou-se de que só o que tinha para vestir era a roupa
do corpo que ora estava toda encharcada. E ficou ali naquele frio. Naquela
noite. Em pé parado com u’a mão sobre o corrimão e a outra a apoiar-se na alça
metálica de sua barca. E ficou ali todo molhado. Apanhando o ar frio o vento
gelado a chuva fina que lhe cobria todo desde o espírito até o que lhe restava
do penteado.
Quando Paris chegou a Roma descobriu
que aquilo era um arremedo de piada. Estava em pé com a roupa pesada colada à
pele do corpo por dentro dela desprotegido o corpo descarnado e desnudado. Dias
de estrada a pé. Dias de vagão de carga. Estava ali. E ainda lhe luziam nos
olhos as lanternas de todas as traseiras de carros da estrada. As lanternas de
todas aquelas latas conduzidas por bestas. Bestas solícitas bestas solenes
bestas ocupadas. Bestas caseiras que trafegam por todas aquelas vias
asfaltadas.
Quando Paris chegou a Roma descobriu
finalmente que nenhum sentido fazia estar vivo e em pé com uma pata apoiada no
corrimão com a outra por sobre a vaga. Com o corpo encharcado o cabelo empapado
e a alma a alma a alma. A alma a lhe garantir que não havia ali ninguém nem
nada que lhe pudesse tornar menos vazia aquela chegada.
(extraído do 'livro' "onde houver vida a vida haverá de vingar".)
Nenhum comentário:
Postar um comentário