Powered By Blogger

sábado, 5 de setembro de 2015

Paris--Roma



Quando Paris chegou a Roma todas as suas roupas estavam molhadas. Até os tênis. Até os ossos. Ele se lembrou como de encontro que não trouxera nada além de livros em sua mala. Ficou ali todo encharcado com u’a mão segurando o corrimão e a outra segurando a alça de sua arca. Lembrou-se de que nem livros ele tinha trazido ali. Lembrou-se aliás de que nada do que havia nela ele se lembrara de ali ter colocado.
Quando Paris chegou a Roma debaixo de um enorme pé d’água. Lembrou-se de que só o que tinha para vestir era a roupa do corpo que ora estava toda encharcada. E ficou ali naquele frio. Naquela noite. Em pé parado com u’a mão sobre o corrimão e a outra a apoiar-se na alça metálica de sua barca. E ficou ali todo molhado. Apanhando o ar frio o vento gelado a chuva fina que lhe cobria todo desde o espírito até o que lhe restava do penteado.
Quando Paris chegou a Roma descobriu que aquilo era um arremedo de piada. Estava em pé com a roupa pesada colada à pele do corpo por dentro dela desprotegido o corpo descarnado e desnudado. Dias de estrada a pé. Dias de vagão de carga. Estava ali. E ainda lhe luziam nos olhos as lanternas de todas as traseiras de carros da estrada. As lanternas de todas aquelas latas conduzidas por bestas. Bestas solícitas bestas solenes bestas ocupadas. Bestas caseiras que trafegam por todas aquelas vias asfaltadas.
Quando Paris chegou a Roma descobriu finalmente que nenhum sentido fazia estar vivo e em pé com uma pata apoiada no corrimão com a outra por sobre a vaga. Com o corpo encharcado o cabelo empapado e a alma a alma a alma. A alma a lhe garantir que não havia ali ninguém nem nada que lhe pudesse tornar menos vazia aquela chegada.

(extraído do 'livro' "onde houver vida a vida haverá de vingar".)

Nenhum comentário:

Postar um comentário