Espaço de mosca. Ver todo mel
ver todo dourado azul do véu do ver seja lá o que pode apreender o olho da
mosca. Espaço de pisar na terra, e sentir pelos pés feitos papilas todo árido
todo tórrido todo sal do amarelo todo o escaldante silêncio da areia do desterro.
O exercício miserável dos mil
dias das mil dunas dos mil horizontes desviados das mil terras dos mil vales
dos mil incomensuráveis espaços.
Era aberto o labirinto por
onde eu deitava meus passos. Era amplo e me digeria os ossos os olhos a fronte
o crânio e o que por dentro dele havia. Era dia e eu sobre a terra uma perna
após a outra a obrigar os pés a cavar o solo. Era aberto mas se fechava em arco
em arestas em inumeráveis vazios que preenchidos pelo não chegar nunca a um
destino abrigo se faziam talhos desses imensos dias.
Atravessar o dia outra noite
outra noite outra noite e assim incontáveis mil que se penduram pelas dunas
ultrapassadas que se enumeram às costas mas que se impõem diante dos olhos como
areias nunca vencidas.
Anotar as horas já é inútil,
os minutos já desde antes caem como fagulhas sem ponta no nenhum imenso nada
que é viver o trocar das pernas nesse atravessar do nada parede enorme que
nunca chega a se configurar.
Labirinto de azuis sem curvas
ou cantos nem léguas a medir desmedindo a via aumentando desmesuradamente a
travessia.
Toda a noite nunca chegava a
noite era sempre o dia. O sol o céu a pino e a cabeça espremida pelo clima.
Todo gesto era transmutado em passo entre o estreito que se alarga no vazio
deflagrado ante os olhos os ossos as carnes e o deslocar de ar que implica o
menor dos movimentos.
Toda voz era o mesmo gesto.
Todo olhar todo grito todo andar todo riso toda lágrima tudo isso era um
configurar de abismos. Abismo era o silêncio que não se consuma. Os dias os
dias e o sangue por dentro as paredes as rodelas miolos e o que lá dentro se
agita. Mar de imagens. Mar de imagens que se nutrem do comum trafegar dos
líquidos por dentro e fora e dentro é fora e dentro e fora a fora o dentro e
erra.
Vagar perigosa entranha.
Roubar do esbarrar a miserável história que se conta que se insere que se
inscreve no cader no pequeno entre folhas no minúsculo das letras espicaçar de
laços deslaços entrelinhar daquilo que vai por dentro e fora no entrechocar da
pele. Superfície clara que esgaravata toda toda toda a matéria a contar de
todos os milenares dias dos milenares corpos das milenares vozes a dizer
convocar encontrar-se entre cada um dos pensamentos que se querem aqui livres
desse arquimiserável destino.
Convém cavar com outra ponta
não os joelhos nem as solas nem as palmas nem quando plantas nem mesmo línguas.
Convém cavar?
Convém afundar?
Convém deslizar?
Convém parar e ficar e ficar e
ficar até vir a sede a fome a dor o medo o caos o onde se dissolve esse só e
solitário sentido.
Não
existe labirinto maior que atravessar.
(extraído do livro onde houver vida a vida haverá de vingar.)
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