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segunda-feira, 22 de abril de 2013

as torres (3 de 6)



Desde isso muito aconteceu em diferentes circunstâncias até eu poder ver novamente o chegar às torres. Tudo porque eu ainda andava por uma estrada.
As torres. O vê-las não era bastante; o chegar a elas era o que implicava a trajetória. Pareceu-me simples a alegria plena que senti ao contemplá-las naquele instante. Mas não foi viva experiência, pois prosseguiu entrecortada. O ver das torres com o pé na estrada. Vinco de caminho já trilhado não valia quase nada. Apropriar-me do que vi era impossível, posto que a imagem oscilava. Embora soubesse ser preciso abandonar o curso que eu seguia, todo e qualquer movimento meu se tornava equívoco.
Todo o lugar para onde eu me voltava inaugurava a senda de um destino único. Essa era a miséria de ainda ter os pés pousados sobre a estrada. Deitei portanto meus passos no leito seco asfalto já que não havia como deixar de sempre ver com margens o por onde eu ia. Esse, eu tinha conhecimento, era o principal erro para quem já teve no horizonte dos olhos o além dos olhos as lâmpadas do além da mente o pressentir paisagem, abandonar miragem do vago ver. Para quem só de ser o cerne das torres podia experimentar viver.
Na vinda não encontrara ninguém até ali que se pudesse identificar como quem vira as torres. Exceto o da bicicleta, que eu percebera.
Então, longe de descansar na beira, procurar a sombra, decidi seguir no curso traçado pelos meus pés ante pés. Julgava alguém mais poder encontrar. Mas dissolver da imagem se fazia constante cada vez que erguia a face para o fim da estrada. Não via nada e de não ver vagava vagava. O que só podia enxergar naquele caminho ido era o meu trafegar pelas bordas precisas que se faziam marcas. Marcas do lembrar era o as torres não mais poder enxergar.
Mas um dia não sabido meio acaso, em que a luz do Sol era entrecortada pela sombra de um prenúncio, deu-me a vista com os poros da toda pele um sentir do vento que circunda as torres. Vento que me implorava a distância que me erguia o gesto para o vasto de despojar o corpo no navegar errante. Nesse dia pelas botas barras de calças e cintura vislumbrei o existir alguém para além da minha circunstância.
Ver era o assombro das linhas que surgiam e trafegavam como outras gentes. Ver dois; pôr mais, surpreender muitos. Inescapados errantes os viandantes eram já tantos os que emergiam vivos algumas vezes ali na película da neblina da manhã. Era uma multidão pressentida que ora aparecia ora desaparecia. Mas muitos dos passos por outros dados ao meu lado eu já podia sentir. Não tocá-los. Senti-los vir sem chegar a ver.
Camuflagem do desvio: Sol a pino árido e seco. Não havia ali mais ninguém quando tornei a me ver. Isso foi bem antes. Quando pela primeira vez senti que era e tinha dedos. Foi de uma solidão de crise ver-me saltado destacado e nenhum comum a misturar-se com meu corpo. Isso foi bem antes.
[continua]
(extraído do livro um mundo outro mundo.)

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