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terça-feira, 7 de maio de 2013

as torres (5 de 6)



Isso foi quando pelo espelho eu vi o que fora o passado o que eu desconhecia. Assim retornei ao pó ao pé ao que parecia de novo a estrada. Quando vi me dei conta novamente de que não aportara a nada. Nem pedais ou espelhos nenhum um me acompanhava: tudo era um estar outra vez entre passos entre linhas entre paredes entre ver no nada entre o desconcerto do que se me afigurava tão palpável concreto mensurável entre o que tinha borda quina e se fazia superfície lisa ou áspera ou fria e se fazia superfície opaca que mais uma vez me comprimia.
Tudo era o voltar velocímetro a rodar novamente pela estrada calcular quilômetros prescrever conquista a cada passo palmilhado pelas rodas do automóvel nada móvel nada meu.
Foi quando então pude perceber o vir das torres. De dentro. Malhas de ferro entranhas verde-ofusco. Como então pude ver-me ali detido ao obscuro do dentro entremeadas entremalhadas entranhas da nervura dentada. Aquela que mordia os dias a transformá-los na experiência. Era um voltar confuso para o dentro das torres vislumbradas.
Passo de nenhum caminho. Eco das infinitas memórias. Havia ali um só destino. Um só destino a me circunscrever. Um apenas eu a me fazer a mesma pergunta. Um espelho inteiro. Nenhum caco. Ralo a trair todas as substâncias. Naquele eu não poderia ver outro. E no entanto era, e como!
a chave do que era em mim
Como uma fonte de matéria reflexa eu vi ali o que não se conjura o que não se representa o instante do nenhum dia do nenhum semblante do nenhum lugar.
Tantos andavam ao lado de mim e me olhavam estranho. Não me perguntava mais como numa terra de estranhos eu era o ainda mais estranho.
Solitários passos pelos corredores e escadas até chegar solene naquela ante-sala. O que podia esperar viver depois de toda essa jornada?
Além do além abriram-se-me as folhas em portas de par em par. Foi só nesse momento que eu soube que íamos nos encontrar. Não tive surpresa ao ver-me ali e a ti sobre o piso finalmente a se materializar. A tua túnica era do azul mais lazúli que eu já vira. Eu por minha vez vestia algo que não me cobria. Foi o que senti ao ver tua mão sobre meu plexo: as ondas do eu que era o que então havia.
Depois disso caminhamos pela sala lado a lado e pude reconhecer que um manto me circunscrevia. Éramos as mãos e os pés e as pernas a comungar destino por toda aquela sala. O que vira de mim ainda era pouco quando ali pela primeira vez estivera. Vira-me e os dedos e as bordas e a pele e me achara sozinho. A tua presença não percebi a não ser por uma apreensão. E era dela que eu fugira sem que me pudesse dar nenhuma explicação. Essa foi a outra vez. A que eu estava vendo pelo teu semblante. A que pude aceitar por ser presente sentido pelas minhas fibras. As torres eram e eu ali estava e aquele instante se cumpria em mim. O vir das mãos as inúmeras rodas a bicicleta de espelhos o por onde eu ia.

[continua]

(extraído do livro: um mundo outro mundo.)

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