Isso foi quando
pelo espelho eu vi o que fora o passado o que eu desconhecia. Assim retornei ao
pó ao pé ao que parecia de novo a estrada. Quando vi me dei conta novamente de
que não aportara a nada. Nem pedais ou espelhos nenhum um me acompanhava: tudo era
um estar outra vez entre passos entre linhas entre paredes entre ver no nada
entre o desconcerto do que se me afigurava tão palpável concreto mensurável
entre o que tinha borda quina e se fazia superfície lisa ou áspera ou fria e se
fazia superfície opaca que mais uma vez me comprimia.
Tudo era o voltar
velocímetro a rodar novamente pela estrada calcular quilômetros prescrever
conquista a cada passo palmilhado pelas rodas do automóvel nada móvel nada meu.
Foi quando então
pude perceber o vir das torres. De dentro. Malhas de ferro entranhas
verde-ofusco. Como então pude ver-me ali detido ao obscuro do dentro
entremeadas entremalhadas entranhas da nervura dentada. Aquela que mordia os
dias a transformá-los na experiência. Era um voltar confuso para o dentro das
torres vislumbradas.
Passo de nenhum
caminho. Eco das infinitas memórias. Havia ali um só destino. Um só destino a
me circunscrever. Um apenas eu a me fazer a mesma pergunta. Um espelho inteiro.
Nenhum caco. Ralo a trair todas as substâncias. Naquele eu não poderia ver
outro. E no entanto era, e como!
a chave do que era
em mim
Como uma fonte de
matéria reflexa eu vi ali o que não se conjura o que não se representa o
instante do nenhum dia do nenhum semblante do nenhum lugar.
Tantos andavam ao
lado de mim e me olhavam estranho. Não me perguntava mais como numa terra de
estranhos eu era o ainda mais estranho.
Solitários passos
pelos corredores e escadas até chegar solene naquela ante-sala. O que podia
esperar viver depois de toda essa jornada?
Além do além
abriram-se-me as folhas em portas de par em par. Foi só nesse momento que eu
soube que íamos nos encontrar. Não tive surpresa ao ver-me ali e a ti sobre o
piso finalmente a se materializar. A tua túnica era do azul mais lazúli que eu
já vira. Eu por minha vez vestia algo que não me cobria. Foi o que senti ao ver
tua mão sobre meu plexo: as ondas do eu que era o que então havia.
Depois disso
caminhamos pela sala lado a lado e pude reconhecer que um manto me
circunscrevia. Éramos as mãos e os pés e as pernas a comungar destino por toda
aquela sala. O que vira de mim ainda era pouco quando ali pela primeira vez
estivera. Vira-me e os dedos e as bordas e a pele e me achara sozinho. A tua
presença não percebi a não ser por uma apreensão. E era dela que eu fugira sem
que me pudesse dar nenhuma explicação. Essa foi a outra vez. A que eu estava
vendo pelo teu semblante. A que pude aceitar por ser presente sentido pelas
minhas fibras. As torres eram e eu ali estava e aquele instante se cumpria em
mim. O vir das mãos as inúmeras rodas a bicicleta de espelhos o por onde eu ia.
[continua]
(extraído do livro: um mundo outro mundo.)
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